São Paulo, sexta-feira, 6 de outubro de 1995
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Extermínio da sensibilidade

MARILÚ GUIMARÃES

A realidade em que vivem 42 milhões de brasileiros é de absoluta exclusão social. Esse dado foi citado pelo próprio governo no relatório que apresentou na Conferência Mundial da Cúpula para o Desenvolvimento Social, realizada em Copenhague, no mês de maio. Se tomarmos como base a renda total do país, 27% da população detém apenas 2,1% da riqueza produzida. Comparando com a América Latina e Caribe, 31,5% daquela população pobre detém 4,1% da renda total.
Esses números apenas demonstram que os pobres no Brasil são os mais pobres do nosso continente. Mais grave ainda é o quadro dos indigentes, que correspondem a 21% da população. A indigência está associada ao rompimento dos laços tradicionais da solidariedade contrastando com os extremos da riqueza e poder, resultando daí fortes tensões sociais e tendo no aumento da violência sua maior consequência.
O resultado mais cruel dessa triste realidade são as crianças e adolescentes que integram esse grande contingente de miseráveis, expropriados em seus direitos mais elementares: casa, comida, saúde, educação e afeto.
Nascidos em um ambiente onde falta tudo, eles estão nas ruas ou buscando sua sobrevivência ou para livrarem-se da violência que sofrem em suas próprias casas: estupros e espancamentos, entre outros diversos tipos de violência.
Nas ruas, onde chegam com a esperança de liberdade, meninos e meninas são levados para a prostituição e para o crime. Passam de vítimas do descaso e descompromisso social para as mãos de exploradores e traficantes, usados como possibilidade de lucro pelo narcotráfico, rede de prostituição e exploração no comércio de seus pequenos corpos.
Hoje, no país, são poucos os grupos que estão envolvidos na luta pela mudança na deprimente situação em que estão inseridos tantas crianças e adolescentes. Seus exterminadores, mesmo identificados pela CPI, em 92, continuam impunes.
O Congresso Nacional já realizou uma CPI sobre a prostituição infantil e os dados são estarrecedores. O relatório final foi apresentado com a identificação de culpados e propostas para mudanças. Essas só acontecerão se a sociedade assim o exigir. Um governo caminha para onde o povo empurra e a hora já é tardia para exigir mudanças à vida de milhões de crianças e adolescentes brasileiros. Uma campanha nacional contra a exploração sexual de crianças foi desencadeada por entidades da sociedade civil, como o Inesc, o MNDH, o MNMMR, o Serpaj-Brasil, o MST, Cebratos e Ceap. Somos poucos ainda. Precisamos aumentar o número de adesões. Quem cala, consente.

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