São Paulo, sexta-feira, 6 de outubro de 1995
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A histeria e a lógica

FERNANDO RODRIGUES

SÃO PAULO - Reina uma histeria entre funcionários públicos e partidos de esquerda sobre o fim da estabilidade dos servidores. Prevêem demissão em massa com a aprovação da medida.
É melhor considerar alguns números para saber se isso vai ocorrer.
Pelas contas do ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, ``6% a 7%" dos trabalhadores empregados no Brasil trabalham para algum tipo de governo -federal, estadual ou municipal.
Esse percentual é baixo se comparado ao de países desenvolvidos. Por exemplo, nos Estados Unidos, 15,5% dos trabalhadores empregados do país são funcionários públicos. No Reino Unido, o percentual é de 15,2%.
Para que então acabar com a estabilidade no emprego para os funcionários públicos brasileiros? Afinal, a maior moda do momento no Brasil é querer empurrar o país para o Primeiro Mundo, copiando o que se vê por lá.
O ministro Bresser explica: ``Esses países têm uma realidade diversa da brasileira. Gastam entre 40% e 50% do que arrecadam para pagar funcionários. No Brasil, alguns Estados e municípios gastam entre 80% e 90% dos seus orçamentos com salários".
Para complicar mais o cenário brasileiro, o imposto real arrecadado fica em torno de 25% a 26% dos rendimentos.
Apesar de as alíquotas de imposto serem altas no Brasil, o sistema é ineficiente, poucos pagam e a sonegação é altíssima. Já em países do Primeiro Mundo a alíquota real de imposto acaba ficando em torno dos 50% da renda.
Em resumo, no Primeiro Mundo, os governos arrecadam mais, têm mais funcionários, pagam melhor seus servidores e a população é melhor atendida. No Brasil, o governo arrecada pouco, há relativamente poucos funcionários públicos, eles ganham mal e a população é mal atendida.
Apesar de tudo isso, é evidente que haverá demissões com o fim da estabilidade. Quantas, é impossível precisar.
Mas a lógica e a comparação com outros países mostram que é improvável ocorrer cortes em massa. O Estado brasileiro entraria em colapso. Se já demora um mês para tirar uma carteira de identidade em São Paulo, o prazo subiria para um ano.

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