São Paulo, sábado, 7 de outubro de 1995
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Ar rarefeito

Os novos prazos para os consórcios de automóveis, com prestações de 50 a 60 meses, frente ao limite anterior de apenas seis meses, significam injetar uma dose extra de oxigênio na economia.
Nos últimos meses aumentaram os sinais de desaquecimento. A sociedade mobilizou-se contra a recessão. O governo, gradualmente, está respondendo a esses reclamos.
Para o setor automobilístico esse alento soma-se a um desempenho que está longe de ser modesto. Em setembro, frente ao mesmo mês do ano passado, venderam-se quase 30% a mais. É uma performance extraordinária, levando-se em conta que, na esteira da estabilização, setembro de 94 já era um período de aquecimento nas vendas. Os novos prazos do consórcio poderão, segundo o presidente do BC, Gustavo Loyola, elevar as vendas em 22 mil veículos por mês, ou cerca de 20% da produção nacional.
É portanto curioso, para dizer o menos, que o governo concentre a dose extra de oxigênio nesse setor. Enquanto isso, prossegue com a política de juros elevadíssimos, deixa desassistidos setores estratégicos como a agricultura ou as pequenas e médias empresas, e não consegue imprimir a necessária velocidade a reformas cruciais para a redução do custo Brasil, como a tributária e a administrativa.
É inegável que o alento que a indústria automobilística recebe será ao menos em parte transferido para outros setores, numa benéfica reação em cadeia. Resta saber, entretanto, se os setores mais asfixiados e com menor poder de pressão terão condições de esperar até que o ar se torne mais respirável.

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