São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aposentado e jovem 'dedam' tráfico de rua

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Velhinhos aposentados e jovens estudantes se aliaram à polícia contra a mais nova característica do tráfico de drogas na zona sul do Rio: a venda de cocaína e maconha em plena rua ou dentro de bares e boates, por traficantes que abordam sem constrangimento qualquer possível freguês.
A mudança do perfil do vendedor de drogas é creditada pela polícia ao enfraquecimento do poderio dos ``chefões" de favelas. Não há mais nos morros da zona sul um grande traficante em atividade (leia texto nesta página).
Em Copacabana e Ipanema -os dois mais movimentados bairros da zona sul-, o tráfico costuma ser feito por viciados que circulam por locais movimentados à noite.
Vendida por esses traficantes, a droga é mais cara que no morro, para compensar o risco e a quantidade separada pelo vendedor para uso próprio.
A fim de combater o ``traficante nômade", a delegacia de Copacabana criou duas entidades não-oficiais que reúnem idosos e alunos interessados em atuar como agentes secretos não-remunerados.
Os agentes da Roiti (Rede de Observadores e Informantes da Terceira Idade) e da RAC-Jovem (Rede de Agentes Comunitários-Jovem) têm a missão de descobrir os lugares onde se vende e se consome cocaína.
Formam a Roiti 203 idosos. O nome e o apelido usado pelo aposentado são mantidos sob sigilo pela a cúpula da delegacia.
A ``livre circulação" e a ``cara-de-pau" dos traficantes levaram ``Velho", 77, a ingressar na Roiti.
``Se tem uma coisa de que nunca gostei é maconheiro e vagabundo. Se dependesse de mim, todos eles iriam para a vala", afirma ``Velho", funcionário público federal aposentado.
Ele conta que, graças à investigação desenvolvida perto de escolas de Copacabana, conseguiu acabar com uma quadrilha de ``sorveteiros e pipoqueiros vendedores de bolinha e maconha".
Na ação como agente secreto, ``Velho" diz que usa disfarces. ``Já fingi até ser maluco. Ficava falando sozinho, meio torto, enquanto um desgraçado vendia uns embrulhos de maconha", disse.
``Velho" confessa sentir medo de se envolver demais em denúncias. ``Essa bandidagem é muito cruel. Bandido mata rindo."
Os apelidos também são usados pelos integrantes da RAC-Jovem, grupo que reúne 127 estudantes de 18 a 25 anos. A maior parte deles cursa o pré-vestibular ou faculdades particulares.
Um dos pioneiros da equipe é ``Rasputim". Ele procurou a delegacia após saber da existência dos agentes setuagenários.
Com a ajuda de colegas, ele passou a abastecer a 13ª DP com informações sobre os traficantes que agem no asfalto, policiais que os acobertam e até a origem da droga vendida na zona sul.

Texto Anterior: Preço de brinquedo varia até 204,15%
Próximo Texto: '007' denuncia os funkeiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.