São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Adolescentes compram crack com dinheiro de "pedágio"

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

Adolescentes da zona norte e oeste de Ribeirão Preto estão cobrando ``pedágio" de moradores para não assaltá-los. O pedágio não tem um preço estipulado. Varia de R$ 1,00 a R$ 5,00.
O dinheiro arrecadado no ``pedágio" é usado pelos adolescentes, na maioria das vezes, para o consumo de drogas.
O ``pedágio do crack" acontece em locais próximos aos pontos de tráfico, nas chamadas ``bocas de fumo", localizadas em regiões periféricas de Ribeirão.
``Tive a minha casa assaltada como represália por não dar dinheiro a eles (viciados)", diz Maria Helena Benetton, 46, moradora do Sumarezinho (zona oeste).
Os ladrões levaram de sua casa uma filmadora, uma máquina fotográfica e um videocassete, entre outros produtos. ``Morei minha vida inteira em São Paulo. Nunca fui assaltada."
Na opinião de Maria Helena, porém, os moradores não devem pagar o ``pedágio do crack". Para ela, quem paga está incentivando esse tipo de crime.
Segundo a polícia, os moradores não registram queixas contra a cobrança do ``pedágio" em Ribeirão. Mas a polícia não descarta que casos esporádicos possam acontecer.
O delegado da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), Odacir Cesário da Silva, 42, conta que foi vítima do ``pedágio", mas se recusou a pagar.
A pena prevista pela cobrança do ``pedágio do crack" -considerado crime de extorsão- varia de quatro a dez anos de reclusão.
Segundo a PM de Ribeirão, os moradores não devem pagar o ``pedágio do crack". Caso se sintam ameaçados, eles podem procurar a polícia pelo telefone 190 ou diretamente os Consebs (Conselhos de Segurança dos Bairros).
``Se você nega, está sujeito a caçar encrenca", diz o operário Clodoaldo Fernando dos Santos, 20. ``Não me fazem falta R$ 3,00. Os viciados são loucos e você pode perder a vida de bobeira", diz.
Mário Ramiro, 44, comerciante, diz que trabalha temeroso e sempre atento à ação inesperada dos cobradores do ``pedágio".
Ele afirma que costuma fechar sua oficina eletrônica antes da hora prevista com medo de ser assaltado. Isso acontece porque Ramiro se recusa a dar dinheiro aos viciados em crack.
``Não vou negar um prato de comida. Dinheiro para droga eu não dou. Eles (viciados) estão ficando raquíticos. Mesmo assim não param de fumar crack", diz.
Mistura de cocaína, bicarbonato de sódio e água, a pedra de crack custa de R$ 3,00 a R$ 5,00, dependendo do tamanho. A droga é facilmente encontrada em todas as regiões da cidade.

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