São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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DJ francês introduz a 'pronóia' no Brasil

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma festa para pouco mais de cem pessoas, na última segunda-feira, marcou a chegada, a São Paulo, do movimento ``zippie".
Versão anos 90 dos hippies, os zippies tentam associar os ideais românticos dos anos 60, como ``paz e amor", às novidades tecnológicas da década atual, como a Internet e a música digital.
Um dos princípios fundamentais dos zippies é a ``pronóia", ou seja, a idéia de que neste momento alguém pode estar tramando, sem que você saiba, pelo seu bem.
(Se, ao contrário, você imagina que tem alguém conspirando para te prejudicar, talvez você esteja sofrendo da velha e boa paranóia).
O DJ (disc-jóquei) francês Yves La Marre, mais conhecido como Ujjain (seu nome indiano), é um dos responsáveis pela introdução das idéias zippies em São Paulo.
Embalado por muita pronóia, ele comandou a festa intitulada Conexão Européia, segunda à noite, no Ton Ton Club, nos Jardins.
A casa noturna foi decorada com painéis multicoloridos fosforescentes, enquanto Ujjain tentava convencer drag-queens e curiosos a dançar ao som de ``trance music", um ritmo derivado da dance music, ultra-repetitivo e hipnótico.
``As casas noturnas, locais escuros e com horário para fechar, são pouco criativas e me interessam pouco. O que quero é organizar festas ao ar livre, onde as pessoas possam curtir a trance music em contato com a natureza", diz Ujjain, recém-chegado de Goa, na Índia, onde viveu oito anos.
Em associação com o promoter Pierre Peres, Ujjain planeja organizar uma festa para mil pessoas, num sítio em Parelheiros (extremo sul de São Paulo), no estilo das festas que, na Inglaterra, ficaram conhecidas como ``raves".
``Quero fazer, como em Goa, festas periódicas para comemorar a chegada da lua cheia. As pessoas têm uma energia especial na lua cheia", diz o DJ.
``Energia" é uma palavra-chave no vocabulário dos zippies. Ouça Ujjain: ``A pronóia ocorre no nível da energia. Qualquer pessoa pode sentir. Nos anos 80, havia muita paranóia. Não sei por quê. Os darks, os góticos, toda aquela idéia de `no future'. Por reação, desenvolvemos a idéia de que há pessoas fazendo o bem para você sem que você saiba."
Segundo o DJ, os zippies rejeitam as drogas pesadas, como cocaína e heroína, mas não fazem restrições àquelas que, nas suas palavras, ``abrem a mente", como LSD e chá de cogumelo. ``Mas elas não são fundamentais para o bem-estar. É possível chegar ao transe sem as drogas", diz.
Nascido em Vannes, na França, há 35 anos, Yves La Marre virou Ujjain depois de cinco anos internado numa comunidade em Omkareshwar, na Índia, nos anos 80.
Como outros ex-hippies ocidentais, rodou o país até parar em Goa, onde conheceu a trance music (nome que vem de transe) e, em 1992, os zippies e a pronóia.
``O movimento zippie está reagrupando todas as correntes da contracultura, que falharam nos anos 60, e incorporando as boas coisas da tecnologia", diz Ujjain.
O futuro da humanidade vai testemunhar uma batalha entre os que, como os zippies, pregam um retorno à natureza e aqueles que querem a destruição do planeta. ``Não sei quem vai ganhar", diz.

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