São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Entusiastas do paradoxo

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Desmentindo os que protestam contra a recessão, o presidente FHC apresenta um argumento que parece irrefutável: todas as avaliações projetam crescimento da economia para 95 em torno de 5% do PIB. Quem há de negar aplausos à façanha de crescer 5% ao ano, ainda mais quando isso foi conseguido em meio a um processo de estabilização bem-sucedido?
FHC está certo. Mas, com todo o respeito, os queixosos também estão corretos. Esse crescimento está refletindo a etapa exuberante do primeiro semestre e a reversão abrupta do segundo.
Resta a certeza de que, se é precipitado falar em recessão (salvo na agricultura, devido ao colapso dos preços), tampouco é prudente apostar num revigoramento expressivo da expansão da economia.
O governo continuará empenhado na consolidação do plano de estabilização. Isso significa, na impossibilidade de avanços na área fiscal, que a articulação entre câmbio e juros será administrada com rigor e cautela para forçar a convergência da inflação para os níveis dos países desenvolvidos.
Ou seja, o câmbio deve ser reajustado com velocidade suficiente para evitar que se amplie a sobrevalorização do real, mas não tão depressa de modo a reintroduzir a indexação. Assim, os juros nominais cairão lentamente para manter elevado o ``coupon" em dólar das aplicações estrangeiras aqui.
Apesar dos últimos superávits da balança comercial, há a necessidade de financiamento imposta pelo déficit de transações correntes. E podem se ampliar, caso retornem os resultados negativos na conta comercial.
O que se busca é uma inflação de 16% em 96. Diante do atual arranjo cambial e monetário, seria compatível com um crescimento de 5% -sem riscos de uma deterioração maior da posição devedora em moeda estrangeira do país-, somente se o investimento direto afluísse a estas paragens.
De uma só cajadada, matam-se dois coelhos: o financiamento do déficit em conta corrente e o aumento da taxa agregada de investimento. O ingresso de capitais poderá chegar a US$ 2,5 bilhões em 95, e dobrar nos próximos anos, porque o Brasil ocupa posição diferenciada no ranking dos países receptores de capitais de risco.
A entrada de US$ 5 bilhões mais o investimento doméstico associado seriam insuficientes para garantir alta expressiva da taxa agregada de formação de capital e assegurar melhoria nas condições de financiamento do déficit em transações correntes.
Nas antecipações e projeções dos ``sucessomaníacos" -irmãos dos ``fracassomaníacos"- falta explicar como a combinação câmbio, juros e abertura comercial, essencial para os propósitos da convergência inflacionária, pode ser indutora de uma elevação significativa da propensão a investir do empresariado local e estrangeiro.
Isso para não falar dos constrangimentos impostos à capacidade de investimento do setor público pela política de estabilização. No resto do mundo, uma fração importante do investimento privado é complementar aos gastos de capital do governo, a despeito dos campeões da modernidade aqui, na terra ``brasilis", postularem uma crescente substituição do dispêndio público pelo privado.
Não há, por enquanto, comprovação dessa última hipótese. Por essa e outras, os céticos e os realistas têm todo o direito de questionar as pretensões dos entusiastas do paradoxo.

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