São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Desemprego estrutural, mas evitável

DEMIAN FIOCCA

Há dois séculos, a reação dos trabalhadores à introdução da máquina foi, não raras vezes, destruir, enraivecidos, aquele inimigo de seu emprego.
Já no século 20, a produção em massa barateou os bens e o ``fordismo" apostou em salários altos para que os operários consumissem o que produziam. E, nos países desenvolvidos, as noções social-democratas que se seguiram à 2ª Guerra ampliaram o bem-estar.
O atual estágio de progresso tecnológico pode gerar miséria como no século 19. Mas também permite distribuir fartura, como no pós-guerra. Quando o governo brasileiro refere-se ao desemprego ``estrutural" no sentido de que, sendo assim, nada há a fazer, ele abdica de aproveitar a tecnologia para o bem-estar. Trata-se de uma opção corrente no mundo.
A capacidade de produzir o suficiente para o atual padrão de consumo em menos horas pode gerar desemprego ou permitir que todos trabalhem menos. O fato é que, nos EUA e Europa, talvez já não haja trabalho para ocupar por oito horas diárias toda a população economicamente ativa.
Uma opção é que alguns trabalhem muito e outros nada. Os ociosos podem ser sustentados pelos que trabalham (como lá ocorre hoje). Mas nesse caso há tensão social. Como já se disse, ``nos últimos três séculos o homem foi domesticado para o trabalho". Viver sem trabalhar é malvisto.
Outra possibilidade é reduzir a jornada, ampliar os anos de estudo obrigatório e adiantar a aposentadoria. Na Suécia, vige um engenhoso imposto progressivo sobre horas extras. Paga-se mais não só por ganhos maiores, mas por jornadas mais longas. A lógica é que quem tira horas de trabalho de outro, paga o seguro-desemprego.
Esse tipo de política pode transformar o drama do desemprego estrutural em ganho de qualidade de vida. Trata-se de uma opção análoga ao fordismo. Pôr a produtividade em benefício da população. No Brasil, tais medidas são viáveis, ainda que em grau menor.
De modo geral, isso implica tributação progressiva. A acumulação de capital seria reduzida. O que poderia ter o efeito benéfico de conter o crescimento dos capitais ociosos que hoje inflam o giro financeiro mundial e geram instabilidade.

Hoje, excepcionalmente, MARCOS CINTRA não escreve esta coluna.

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