São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Diário de viagem ao México - 1

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Durante três dias, André Lara Resende e eu visitamos o México. Não foi uma viagem de turismo, mas uma necessária atualização sobre a situação econômica desse país irmão.
Esta é hoje uma necessidade derivada do caráter global dos mercados financeiros. Não se pode trabalhar no Brasil sem acompanhar os mais importantes países da América Latina, pelo menos México e Argentina. A crise do peso mexicano, em dezembro, é um exemplo dessa interdependência regional dos mercados financeiros.
Os espaços financeiros nacionais estão hoje divididos em blocos regionais e os movimentos especulativos de capital refletem as condições específicas de cada grupo de países.
Nesse sentido, uma crise na Argentina ou no México gera movimentos de capitais que afetam o Brasil, independentemente da nossa economia.
O que pode mudar é a posição dos países de um mesmo grupo. No bloco latino, há mais de um ano, o Brasil era o país de maior risco e os preços de seus papéis negociados no exterior eram mais baixos do que os das Argentina e México.
Hoje, a hierarquia mudou, com o Brasil em primeiro lugar, o México em segundo e a Argentina em terceiro. Gostaria de passar aos leitores da Folha algumas observações que recolhemos em nossa viagem.
A primeira surpresa em relação à minha visita de março passado foi a forma como governo e sistema bancário enfrentaram o colapso do peso.
Apesar da crise de liquidez em dólares que afetou as instituições financeiras -elas eram, junto com o governo, as grandes tomadoras de recursos externos de curto prazo- e do apodrecimento de sua carteira de empréstimos -pela inadimplência- não houve corrida dos depositantes e os bancos conseguiram manter, pelo menos no curto prazo, seu equilíbrio financeiro e econômico.
Dois fatores foram importantes para que isso ocorresse: a solidariedade entre os banqueiros e a pronta entrada do Tesouro no circuito. O primeiro evitou a atitude predatória entre as instituições financeiras; o segundo permitiu, via estatização provisória de parte da dívida privada nos bancos, o colapso patrimonial das instituições. Voltaremos a esse assunto.

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