São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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O novo paradigma da economia - 4

LUÍS NASSIF

O principal agente de transformação do capitalismo social é o cidadão-investidor. Todo o modelo de constituição de fundos de investimentos tem por objetivo final proporcionar à poupança popular igualdade de condições com os grandes capitalistas. Democratizam-se oportunidades de investimentos e acesso à informação.
Nesse universo, o objeto de desejo dos investidores são ações de empresas, não CDBs, poupança e renda fixa em geral. Como é um universo muito especializado, que demanda conhecimento de balanço e análises setoriais, há duas estruturas facilitando a entrada do pequeno investidor no mercado.
Uma, os administradores de carteiras e grandes fundos de investimento com amplo corpo de técnicos e analistas. Outra, estruturas de informação especializada de massa. Em lugar da consultoria individual, cara e personalizada, há a disseminação de informações baratas através das redes informatizadas.
Hoje em dia, há instituições com birôs espalhados pelas próprias ruas de Nova York. Os investidores acessam por meio de cartões ou senhas, recebem informações atualizadas e decidem individualmente onde aplicar.

Capitalismo social
Com a massificação dos investimentos, criam-se as bases de um autêntico capitalismo social.
A perna central dessa democracia é a democratização da informação. Informações privilegiadas são tratadas como crimes graves, que atentam contra os direitos da maioria. Decisões como a do Conselho Monetário Nacional (CMN), na sexta-feira retrasada, de retirar abruptamente o deságio na utilização de títulos externos na privatização, certamente suscitariam investigações para se apurar se alguém se beneficiou ou não da decisão.
Outro ponto fundamental nesse modelo é o reconhecimento dos direitos das minorias acionárias das sociedades anônimas. Qualquer ato de diretoria que seja caracterizado como benefício aos controladores, em detrimento da empresa, dá margem a processos e julgamentos severos.
Da mesma maneira, os acionistas podem opinar sobre as formas como as empresas se comportam em relação à comunidade e ao meio ambiente. Diversas ONGs (Organizações Não-Governamentais) adquirem ações de empresas para poderem fiscalizá-las por dentro.
Ponto relevante no sistema de informações são os indicadores gerenciais e contábeis das empresas. Há critérios que têm que ser seguidos à risca, e refletir da maneira mais transparente possível a sua situação. Informação relevante ocultada é tratada como crime.
Nesse modelo, há formas de controle burocratizadas (como a fiscalização das Comissões de Valores Mobiliários e dos Bancos Centrais). Mas o grande controle sobre as empresas se faz através da opinião pública.
Esse modelo obriga a que, cada vez mais, as informações sejam públicas, e torna cada minoritário um fiscal da empresa.
Afinal, o que está em jogo é a sua poupança.

Gigante acordando
O Banco do Brasil ainda não sabe negociar com clientes. Continua meio sem jogo de cintura. Mas não há dúvida que começou a acordar.

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