São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Bradesco resgata Cofap de longa disputa judicial

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

Uma complexa operação financeira, que durou um ano e envolveu oito escritórios de advocacia, foi montada para a venda de 40% das ações ordinárias da Cofap ao Bradesco por R$ 60 milhões.
O objetivo do negócio -iniciado e conduzido por Abraham Kasinski, presidente da Cofap- foi encerrar o conflito judicial na família, o que inibia a maior indústria brasileira de autopeças de se profissionalizar e de captar dinheiro no mercado.
Antigas divergências sobre a administração da empresa, uma permanente fogueira de vaidades, rancores acumulados e sequelas da separação de Abraham foram o estopim de longa batalha na Justiça.
Os desentendimentos colocaram em posições irreconciliáveis o empresário, de um lado, e, de outro, Balbina, sua ex-mulher, e os filhos do casal, Roberto e Renato.
A operação financeira foi coordenada pelo Brasilinvest, banco de negócios de Mario Garnero, contratado pela Cofap. Pelo Bradesco, atuaram Alcides Tápias, Vitor Amaral e Mário Teixeira.
Como as partes não se falam, a operação foi costurada por Samsão Woiler, do Brasilinvest, amigo da família. Também foram intermediários Roberto Dutra Vaz, que representou a ex-mulher e os filhos de Abraham, e o advogado Alberto Rocha Azevedo, em nome de Abraham e do sobrinho Leon.
Aos irmãos Roberto e Renato, que tinham sido afastados da diretoria da Cofap, interessava a venda das ações e uma espécie de desagravo. A Cofap concordou em extinguir a ação de responsabilidade civil contra ambos e quitar todos os atos de gestão.
Várias tentativas de tirar Abraham do comando haviam fracassado, graças a liminares obtidas pelo empresário (certa vez, Roberto chegou a comprar ações de minoritários, em Bolsa). Outro obstáculo era acertar a situação pendente envolvendo a partilha e direitos que eram reclamados pela ex-mulher de Abraham. Antes da separação, o casal havia feito doação das ações aos filhos, ficando o usufruto com Abraham (posteriormente, ele tentou revogar a doação, alegando ingratidão dos filhos).
Para coordenar toda a documentação jurídica, Garnero requisitou os ofícios do advogado Renato Ochman. Ele já ajudara a montar operações semelhantes de empresas familiares em litígio.
A intermediação do Brasilinvest se explica pela amizade entre Abraham, Garnero e Woiler (a Cofap foi sócia do Brasilinvest). Em setembro de 94, o Brasilinvest havia proposto a compra do controle da Cofap pelo banco de investimento norte-americano Lehman Brothers (adquirindo as ações de Abraham e dos sobrinhos Leon e Nelson, filhos de Boris Kasinsky, irmão de Abraham). A negociação não evoluiu. Uma segunda proposta não prosperou.
Em novembro de 94, foi Abraham quem procurou Garnero. Três meses depois, o Brasilinvest viabilizou a operação. O Sul América e alguns fundos de pensão manifestaram interesse, mas foi o Bradesco que manteve a disposição de fechar o negócio. A partir daí, Abraham comandou a negociação.
O Bradesco exigiu que as ações estivessem livres de qualquer ônus ou embaraço por conta dos vários processos judiciais. O banco só aceitou adquirir o suficiente para que o controle permanecesse com Abraham. Leon e Nelson concordaram em não exigir que o Bradesco comprasse suas ações.
Um acordo com os sobrinhos garante a Abraham a maioria absoluta do capital votante e o comando da empresa. Nelson e Leon têm a preferência para adquirir as ações de Abraham, daqui a dois anos. Até lá, Abraham terá condições para profissionalizar a Cofap e se dedicar ao cultivo de orquídeas, seu hobby.

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