São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parmalat x Parmalat

JUCA KFOURI

Responda rápido: você tem uma empresa que patrocina dois clubes que vão se enfrentar. Um, se vencer, estará classificado para as semifinais do Campeonato Brasileiro, expondo sua marca no momento principal. O outro está apenas fazendo figuração.
Qual seria a sua decisão: influencia para que o time que pode se classificar vença ou prefere mostrar que sua empresa é tão ética que não haverá influência nenhuma?
Qualquer que seja a sua resposta -e 99% da humanidade, infelizmente, ficaria com a primeira opção-, o jogo de hoje em Caxias do Sul (RS), entre Palmeiras e Juventude, não lançará um novo produto Parmalat no mercado, a marmelada.
É óbvio que a CBF devia ter atendido aos apelos que surgiram tão logo a tabela foi anunciada e mudado o jogo para uma data menos delicada.
Mas imaginar a CBF preocupada com a ética é exagerar do direito de ser ingênuo.
Seja como for, a possibilidade da marmelada não existe, por mais que todas as condições estejam dadas. O Juventude tem como técnico alguém como Émerson Leão, figura histórica da vida palmeirense. Tem diversos jogadores que estavam no Parque Antarctica até outro dia mesmo. Tem a Parmalat.
Só que esses mesmos elementos garantem a lisura do jogo. Ou você acha que Leão se prestaria a tal serviço sabendo que, além de estar cometendo um crime que seu passado não autoriza, imediatamente fecharia as portas do Palmeiras para ele? Ou você contrataria para trabalhar na sua empresa alguém capaz de tamanha desonestidade?
E quem teria coragem de propor isso a Leão, que ele orientasse seus jogadores para amolecer? Mais: esses jogadores têm é uma chance enorme de provar seu valor e de, quem sabe, ganhar uma nova chance no Palmeiras.
De mais a mais, certo tipo de falcatrua, que envolva muita gente, sempre acaba aparecendo. Alguém dá com a língua nos dentes, por vingança ou por qualquer outro motivo.
Foi assim, por exemplo, quando se desconfiou que o Peru entregara o jogo para a Argentina na Copa do Mundo de 1978. Demorou, mas apareceram os depoimentos de peruanos contando a patifaria. Acabou de acontecer no futebol francês, com amargas consequências para o Olympique de Marselha.
E se você está surpreso porque supunha que aqui encontraria exatamente o raciocínio inverso, fique tranquilo: as grandes trapaças do futebol são feitas com mais sutileza, não são tão óbvias. Mesmo que a sua empresa desejasse.

Texto Anterior: Juventude nega `conchavo'
Próximo Texto: Viagens do Flamengo beneficiam presidente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.