São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Alemães buscam equilíbrio na união

LUC ROSENZWEIG
DO "LE MONDE"

Cinco anos após a reunificação solenemente proclamada pelo chanceler Helmut Kohl, no dia 3 de outubro, em Berlim, a ex-Alemanha Oriental mudou de rosto.
É preciso lançar um olhar realmente penetrante para perceber os traços deixados na paisagem por meio século de comunismo.
É verdade que os famosos e antiquados carros Trabant continuam nas ruas, mas isolados em meio a uma frota impressionante de carros novíssimos. Dentro em breve as Galeries Lafayette (loja de departamento francesa) vão abrir uma filial na Friedrichstrasse, a rua comercial de Berlim Oriental, cujas tristes vitrines da era Erich Honecker já caíram no esquecimento.
O desafio lançado pelo chanceler Kohl em março de 1990, na ocasião da primeira campanha eleitoral democrática no que ainda era a Alemanha Oriental (``aqui irão nascer paisagens floridas") está em processo de ser ganho.
Não foram poupados recursos para isso, e a outra aposta do chanceler, que afirmou imprudentemente que o leste seria igualado ao oeste do país sem elevação de impostos, foi perdida.
Entre 1991 e 1995, 780 bilhões de marcos alemães (cerca de R$ 525 bilhões) foram transferidos do oeste para o leste. Para financiar esse gigantesco esforço nacional, os impostos e as taxas sofreram 14 aumentos em cinco anos.
O Bundesbank exige do governo a supressão das assistências públicas a partir de 1998, para não encorajar na antiga Alemanha Oriental uma mentalidade de dependência à assistência.
A unificação também exerceu efeitos benéficos na Alemanha Ocidental: permitiu a implementação, sem conflitos sociais maiores, de reestruturações que os parceiros da Alemanha na União Européia têm dificuldades em realizar.
Assim, a fusão das duas empresas ferroviárias permitiu reduzir o número de empregados no setor de 500 mil para 200 mil, preparando o terreno para a privatização, e a companhia aérea Lufthansa voltou a ser rentável, depois de passar por um rígido tratamento para tornar-se mais enxuta.
Os fortes sindicatos alemães acharam o remédio amargo, mas como apoiar-se nas vantagens adquiridas no oeste quando, ao mesmo tempo, eram suprimidos 3,4 milhões dos 9,7 milhões de empregos da ex-Alemanha Oriental?
Frente a essa situação econômica globalmente positiva, poder-se-ia imaginar que um otimismo razoável, porém sólido, dominasse nos espíritos da nova Alemanha. Mas isso não acontece.
O chanceler Kohl e sua coalizão venceram, por margem pequena, as eleições legislativas de 1994, mas essa vitória pode ser atribuída a uma falta de credibilidade da oposição social-democrata e de seus dirigentes. Na falta de outra opção, Kohl ficou sendo o único homem capaz de manejar o leme de Bonn (e, breve, de Berlim).

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sobre a reunificação à pág. 1-24.

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