São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Argentinos visitam túmulo

DENISE CHRISPIN MARIN
DE BUENOS AIRES

Cravos presos a fitinhas brancas e azuis (as cores da Argentina) aparecem todos os dias no mausoléu da rua 34, corredor 5 do cemitério da Chacarita.
É onde está o corpo embalsamado do general Juan Domingo Perón (1895-1974).
A peregrinação é discreta. Os argentinos entram na ruela, prendem as flores a uma das oito placas de bronze que adornam a fachada e desaparecem.
Não há velas acesas nem pedidos impossíveis. Esses tipos de manifestações são mais frequentes na tumba de sua segunda mulher, Eva Perón (1919-1952).
Perón e Evita estão separados desde os primeiros anos do regime militar (1976-1984), quando foram desenterrados da Quinta de Olivos, a residência presidencial.
O corpo de Perón foi transladado ao mausoléu de seus pais, na Chacarita. O de Evita acabou enterrado debaixo de uma placa de 10 centímetros de aço na tumba de sua família, na Recoleta.
Para os militares, os cadáveres dos maiores mitos argentinos deste século, juntos, representavam perigo. Poderiam estimular peregrinações e sentimentos pró-peronistas em uma população propensa a venerar seus mortos.
Nesta época, essa expressão peronismo estava proibida -assim como todas as manifestações e grupos ligados às idéias de justiça social do general.
Foi nesta época que a legenda política organizada em torno destes conceitos optou por chamar-se Partido Justicialista para poder atuar na legalidade.
Dentre os mausoléus da Chacarita, o de Perón é singular. A porta é blindada, coberta por uma lâmina de bronze com uma imensa cruz. Esse lacre fez com que, em 1987, um grupo entrasse na tumba pela clarabóia.
Dias depois, descobriu-se que os invasores haviam cortado e levado consigo as mãos de Perón.
A Justiça não chegou a nenhuma conclusão. O mistério continua. Existem, sim, especulações.
Alguns chegam a dizer que seria um ato de vingança da Máfia italiana por dívidas contraídas por Perón na época do exílio e jamais pagas. Para outros, seria uma mensagem para os seus seguidores.
(DCM)

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