São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Líder Islâmico quer reunir 1 milhão de negros

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Na esteira do julgamento de O. J. Simpson, que provocou as mais profundas divisões raciais nos Estados Unidos desde a década de 60, ganha novo significado a Marcha de Um Milhão de Homens, programada para o próximo dia 16 em Washington, capital do país.
A marcha é organizada pela entidade radical e anti-semita negra Nação de Islã, liderada por Louis Farrakhan.
Além de colocar 1 milhão de negros na frente do Congresso americano, Farrakhan também quer que no dia 16 todos os negros do país entrem em greve e não façam compras em lojas pertencentes a pessoas brancas.
O porta-voz do presidente Bill Clinton, Michael McCurry, disse na sexta-feira que a Casa Branca, sede do governo dos EUA, tem ``preocupações" sobre o caráter da manifestação.
O jornal ``The Washington Post" publicou, na quinta-feira, pesquisa de opinião pública segundo a qual 50% dos negros entrevistados apóiam a marcha organizada por Farrakhan.
A marcha está sendo organizada há meses, mas ganhou súbita notoriedade com o resultado do julgamento de Simpson.
Ainda mais porque o principal advogado de defesa de Simpson, Johnnie Cochran, está sendo protegido por guarda-costas da Nação de Islã.
A pesquisa do ``Post" mostra alguns aspectos que ajudam a entender o veredicto do caso O. J. Simpson (absolvição).
Por exemplo, metade das mulheres negras entrevistadas disse apoiar a noção da marcha de que apenas homens devem participar dela.
Isso reforça a impressão de que para as mulheres negras a condição racial é mais importante do que a condição sexual.
Se a promotora do caso Simpson, Marcia Clark, tivesse tido este ``insight", talvez ela não tivesse aprovado o acordo tácito que fez com que a defesa aceitasse um júri de maioria negra, mas também de maioria feminina.
Clark deve ter imaginado que mulheres entenderiam melhor a tese da promotoria de que os antecedentes de violência doméstica do ator e ex-jogador de futebol americano contra a ex-mulher, Nicole Brown, eram indicativos de eventual comportamento homicida.
Mas, como se sabe agora, as mulheres negras do júri acharam que foi ``perda de tempo" o que a promotoria fez para retratar O. J. Simpson como marido que espancava e humilhava a mulher com regularidade.

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