São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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PT só ganha com novas alianças, diz Lula

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A ARAÇUAÍ (MG)

O PT deve ampliar o leque de alianças políticas para além do PDT e dos chamados partidos de esquerda (como PC do B e PSB), se quiser disputar para ganhar as eleições de 1996 e 1998. Essa é a a avaliação que faz hoje Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do partido e seu principal líder.
``Defendo que a gente articule um bloco de alianças mais amplo do que aquele que fizemos até agora. Temos de buscar intelectuais e personalidades de outros partidos políticos", disse ele na sexta-feira, em Araçuaí (600 km ao norte de Belo Horizonte).
Lula percorre 12 cidades do Vale do Jequitinhonha, norte mineiro, na 11ª Caravana da Cidadania, que termina hoje em Almenara.
A lição da derrota de 1994 -quando o PT praticamente carregou nas costas os micros PC do B, PSTU, PPS, PV e PSB- parece ter reforçado essa posição.
Lula, que completa 50 anos em 27 de outubro, afirma que é preciso lançar ``um movimento" e não só um partido para o pleito presidencial de 1998, ``com a participação até de empresários".
O ex-presidente do PT acredita que há espaço para atrair descontentes de outros partidos.
``Tem gente no PMDB e até no PSDB que gostaria de remar em outra direção. A satisfação nesses partidos não é total. O Pedro Simon, por exemplo, deve se sentir incomodado no PMDB", afirma.
Lula diz que não quer ser novamente candidato a presidente em 1998. Mas não descarta nova tentativa, a exemplo do socialista François Mitterrand, derrotado duas vezes antes de se eleger presidente da França. ``Não digo que não sou candidato a mais nada."
O fato é que, sem Lula como candidato, há dentro do PT receio de um vazio político, por falta de outras lideranças carismáticas.
Mas o PT, diz, achará um nome: ``Fernando Henrique Cardoso também não tinha nome antes de ser ministro da Fazenda, embora fosse senador. A TV, em três meses, cria uma figura nacional".
A caravana pelo Vale do Jequitinhonha, um das regiões mais pobres do país, revelou um Lula mais conciliador, embora firme no discurso de oposição ao governo e ``à política neoliberal".
``Para a região sair dessa, é preciso que sentemos à mesa não só com os amigos. É preciso sentar com os inimigos e buscar soluções", afirmou em Diamantina, primeira escala da viagem.
O petista evitou apresentar-se como ``o redentor dos pobres". Em Minas Novas, ele cobrou postura mais ativa da platéia. ``Está na hora de parar de chorar e trazer propostas para que essa situação de pobreza seja revertida."
Em todas as paradas, Lula praticamente só ouviu sugestões para o entorno do Jequitinhonha, fez seminários e recolheu documentos de sindicatos e outras entidades.
Ajuda a Azeredo
O PT fará um dossiê que será entregue ao governador mineiro, Eduardo Azeredo (PSDB), para depois, então, cobrar soluções.
Percorrer as regiões mais pobres do país é, segundo Lula, uma maneira de ``provar que elas só são assim porque os governantes são mentalmente pobres".
O partido já prepara nova caravana, desta vez pelo Vale do Ribeira, a mais subdesenvolvida região do Estado de São Paulo.
Lula não perde a chance de atacar FHC. ``Inexiste política social. Respeito Ruth Cardoso, mas política social é coisa de ministérios, não de Comunidade Solidária."
O petista parece ter superado a depressão da derrota. ``Nunca estive tão bem com a vida. Fazendo as coisas de que gosto. Vou continuar viajando pelo país", anuncia.
Embora falte um ano para o pleito e Lula refute a hipótese, as caravanas viram votos. Pré-candidatos petistas a prefeito em 1996 tiraram proveito da turnê de Lula.

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