São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Mulheres `enviúvam' todo ano

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL A MINAS NOVAS

Maria da Conceição Batista, 27, ``três filhos com esse que já está vindo", só vê o seu marido durante quatro meses por ano, de dezembro a março.
Ela é uma das centenas de ``viúvas de marido vivo" que habitam o Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais.
Durante oito meses, os homens da região viajam para trabalhar no corte de cana em São Paulo ou na cultura de café em outras áreas de Minas.
A seca (não chove há oito meses nas chapadas do Alto Jequitinhonha) e a falta de emprego provocam esse êxodo masculino.
``Ou você acostuma a ficar só ou fica pregada no marido e morre de fome", diz Conceição.
A natalidade em Minas Novas cresce nove meses depois do retorno dos homens.
``Não é fácil. Fico abatida, é muita saudade. Pra gente comer, o marido tem que sair", afirma outra ``viúva", Damares Castro Basílio, 24, três filhos.
Rita Borges Rodrigues, 39, cinco filhos, mora no chamado Morro das Viúvas, em Minas Novas. ``A cidade inteira é assim. Não é só aqui na rua do Corta Mão" -segundo lenda local, nome dado depois que um padre teve a mão decepada por furtar moradores.
O marido de Rita, cortador de cana, manda-lhe de R$ 200,00 por mês. ``Aqui não tem emprego. A prefeitura só emprega rico, filho de comerciante. Para quem precisa, não sobra nada", diz Valdicéia Aparecida, 27.
``Está dando pra comer. O preço na feira não está subindo. Você sabe, pobre não pensa em outra coisa a não ser comer", diz Conceição.

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