São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995 |
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`Escultura para Senna não é arte'
LUIZ PAULO BARAVELLI
Acho praticamente impossível fazer arte pública hoje em uma cidade como São Paulo. Não há a base cultural coletiva mínima para isso. O que há são obras de arte colocadas em locais públicos, o que não as torna automaticamente públicas. Nenhum artista ``bom" faria uma homenagem a um ídolo popular como o Senna. A arte se tornou um sistema para criar escassez, hermetismo, dificuldade. Um ``bom" artista faz elucubrações estético-filosóficas que são, no máximo, elogios a si próprio. A cidade não existe mais como fato cultural em si; ela não é mais visível. Existe apenas como um acúmulo de possibilidades de mediação ou uma coleção de ``dentros"; o ``fora" é evitado a todo custo. As antenas das emissoras de TV são talvez a escultura pública possível aqui. São retas, diretas, compreensíveis e suficientemente conscientes de si para serem arte. Mas elas não são a coisa, são parte da transmissão da coisa. No início do modernismo, os artistas inventaram algo chamado arte que não é pintura nem desenho nem escultura nem gravura. Maluf está rateando; perdeu a oportunidade de fazer demagogia com um concurso público, júri popular, muitos prêmios etc. Lembro que nessas condições ``democráticas" o resultado seria uma peça ainda pior que esta. Pior do ponto de vista branco, europeu e erudito, que chamamos culto e que está em extinção. Se a escolha tivesse sido feita por um júri de especialistas, o sistema de arte estaria satisfeito, mas a escolha seria tão autoritária como a de Maluf. Uma pessoa ou cinco não faz diferença para a democracia, se é que é possível inventar um sistema democrático que envolva arte. A Melinda está na dela. Em sua inocência e esperteza é uma sobrevivente, coisa que os ``bons" artistas talvez não sejam. Fico aqui com um meio sorriso pensando que ela é o futuro. Texto Anterior: Paulistano `visita' Senna e congestiona túnel Próximo Texto: Obra terá primeiro teste hoje Índice |
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