São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Yakult investe em carne com grife

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Yakult espera que o tempo dos bois magros comece no ano 2000. Na verdade, são animais mais "esbeltos": com mais carne e gordura em menor quantidade -e no lugar certo.
A empresa está investindo US$ 3 milhões para ter, dentro de cinco anos, um plantel de 1 milhão de cabeças de gado, criadas e vendidas sob a grife Yakult.
A idéia é abater animais precoces (até 24 meses, contra três anos ou mais do normal), mantidos em confinamento, para produzir carne de qualidade a preço especial -perto de 20% acima da média de mercado-, em regiões livres da febre aftosa.
A empresa estuda as raças nelore e simental para formar o rebanho, entre outras opções.
Espaço para isso tem, afirma Otto Giorgi, um advogado de 31 anos, seis na Yakult, responsável pela pecuária de corte da empresa.
Ele aposta no crescimento do mercado interno e quer disputar o externo. A empresa sonha com o Japão, onde os preços são o dobro dos da Europa e dos EUA.
O pontapé inicial do projeto será dado hoje, quando um grupo de técnicos da empresa visita a fazenda Novo Mundo, do grupo Manah, em Brotas (247 quilômetros a noroeste de São Paulo).
Comercialmente, será a primeira vez que a empresa vai avaliar a qualidade de um rebanho vivo. Até hoje, para analisar as principais características de um boi, era preciso abatê-lo.
Depois disso, era preciso medir a região de cortes nobres (chamada de área de olho de lombo), a espessura da gordura sob a pele e a proporção de gordura misturada à carne (marmoreio), que a torna macia.
Só assim era possível conhecer as características relativas à produção de carne da "família" do animal sem sacrificar o pai, normalmente um caro touro reprodutor.
A Yakult gastou US$ 80 mil em um equipamento japonês de ultra-sonografia capaz de fazer o mesmo serviço em três minutos.
A avaliação da carne pode ser feita com o animal vivo, aos oito meses de idade e ao preço de US$ 780 por animal -um sexto do que é gasto pelo método anterior.
A tecnologia, inédita no Brasil, já é usada em países como Japão, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Em 1996, chegam mais dois aparelhos, semelhantes aos usados pela medicina para "enxergar" o corpo humano por dentro.
Com eles, a empresa poderá avaliar 1 milhão de animais por ano na fase final do projeto.
Neste ano, serão avaliados somente 6.000 animais, que fazem parte de 60 rebanhos. A Yakult vai repassar as informações às associações de criadores, responsáveis pela indicação dos criatórios a serem analisados.
Essas associações serão responsáveis pela divulgação das informações geradas pelo ultra-som.
Entre os clientes dessa primeira fase de análise estão grupos como 3M, Grandene, Corona, Pirassununga (caninha 51) e Ypiranga.
O negócio começa a partir daí. A Yakult vai vender as informações e também se beneficiar delas.
Banco de sêmen
Os dados vão servir, em primeiro lugar, para ela ampliar seu banco de sêmen, hoje de 150 mil doses -na maior parte, sêmen de gado leiteiro, segmento em que atua há 28 anos.
Identificados os melhores touros das raças de corte, o número de doses à venda vai dobrar.
Depois disso, a empresa quer montar seu próprio plantel, com 1 milhão de cabeças selecionadas, e abater 500 animais por dia.
O rebanho de gado de corte brasileiro tem perto de 150 milhões de reses.
A empresa ainda não decidiu como será o abate: se em frigorífico próprio, arrendado ou de terceiros. Os cortes nobres serão tratados e embalados. Vão para o mercado sob o rótulo de "carne especial, com a marca Yakult.
As informações que vão ser acumuladas no uso da nova tecnologia servirão, ainda, para definir parâmetros genéticos das várias raças existentes no Brasil. Assim, a empresa pode acelerar o melhoramento genético de seu próprio rebanho.
Além disso, as informações estão servindo para a formação de mão-de-obra especializada.
A Yakult fez convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Alunos e professores do curso de zootecnia serão financiados por dez anos para ajudar na coleta dos dados.
A idéia da empresa é absorver parte do pessoal formado.

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