São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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OS PCS DO ROCK

ALINE SORDILI
ENVIADA ESPECIAL À AUSTRÁLIA

Rotulados de PCs (politicamente corretos) do rock, o Midnight Oil assume essa face em casa -a Austrália.
Idolatrados por ainda viverem no país de origem, o Midnight toca sempre nas FMs locais.
Morando ``down under", Rob Hirst, 39, baterista, explica o sumiço dos moços ecológicos.
A banda tirou férias em 95. Talvez, diz ele, comecem a fazer um novo disco no ano que vem.
Para o Brasil, só estão planejadas viagens -sem shows- à Amazônia.
Leia, a seguir, trechos da entrevista de Rob Hirst à Folha, em Sydney, enquanto Peter Garant dizia não aos testes nucleares no Atol de Mururoa.

Folha - Quais foram suas influências musicais?
Rob Hirst - Comecei ouvindo os garotos de Liverpool (Beatles). O som do Midnight Oil é muito influenciado pelo Sex Pistols, The Clash, Elvis Costelo.
Folha - Mas essa não é o tipo de som da banda?
Hirst - Não, de fato. O som do grupo foi formado por várias influências diferentes vindas dos outros integrantes da banda.
Nós tocávamos há muito tempo, desde a década de 60. O grupo foi formado em 1976, mas só em novembro 1978 é que nós decidimos qual seria o tipo de som que iríamos fazer. Foi quando gravamos o primeiro disco.
Folha - Aqui na Austrália, todos falam de Midnight Oil como um orgulho nacionalista. É uma banda famosa, internacional, mas continua australiana. Por que isso acontece?
Hirst - Um dos pontos principais é porque nós continuamos vivendo aqui, não conseguiríamos viver em outro lugar.
Folha - O tipo de música feito pelo Midnight Oil em 1976 continua o mesmo?
Hirst - É muito interessante você falar disso. Nós fizemos um disco em 1992 e um show no Capitol Teatre (centro de Sydney) e algumas pessoas sentiram que o nosso som mudou do disco para o show.
Somos uma banda que toca ao vivo em primeiro lugar. O disco é só a gravação de alguns momentos, algumas vezes com sucesso outras não.
Folha - Como veio o sucesso e como vocês lidam com ele?
Hirst - O nosso primeiro sucesso veio em 1980, com a execução do disco nas rádios FM. Nós tivemos que subir muito para conseguir alcançar o sucesso.
Folha - O que foi que vocês determinaram que seria o diferencial da banda de vocês?
Hirst - Pelo fato de estarmos na Austrália, nós temos o surfe, para quem gosta de surfe. Esse era um diferencial quando começamos. Tocávamos, e ainda tocamos, em ``pubs" aqui.
Folha - O Midnight Oil, ou você particularmente, está envolvido em alguma causa ecológica no Brasil?
Hirst - Não. Nosso envolvimento acontece sempre que tem alguma área em risco, como o Atol de Mururoa agora. Apoiamos causas do Greenpeace.
Folha - Vocês tem algum plano de voltar ao Brasil?
Hirst - Provavelmente, o Midnight Oil vai gravar um outro disco no ano que vem. E o Brasil está incluído na turnê, com certeza. Nós queremos voltar.
Temos shows já marcados na América Latina, como Venezuela, Peru. E vamos visitar Manaus e Belém.
Folha - Vocês irão tocar?
Hirst - Não. Vamos apenas visitar e ver a floresta.
Folha - Acho que você deve saber que lá não tem muita coisa além da floresta.
Hirst - É exatamente isso que nós vamos ver. O nada. É exatamente esse tipo de coisa que eu gosto: o deserto do Arizona, o rio Negro, subir em um ônibus e ficar passeando.
Folha - O que vai ter no novo disco?
Hirst - Eu exatamente não sei. Há algumas semanas, nós nos reunimos para decidir que faríamos um novo disco. Nós tiramos esse ano de férias.
Folha - Como é o processo criativo?
Hirst - Ficamos tocando e escrevendo por horas e, em uma hora, uma coisa boa aparece.
Hirst - De oito a dez meses.
Folha - Sei que músicos não gostam de rotular o próprio som. Mas como vocês classificam o seu?
Hirst - O Midnight Oil é um som profundo que tem um objetivo. As músicas não são planejadas. Elas acontecem de uma forma caótica, nada é planejado. Nós não damos nome, dizem que é um som político.
Folha - Mas como você o classifica?
Hirst - Eu acho que é bem australiano. Falamos sempre sobre lugares e pessoas que existem, sem romantismo. Procuramos dar sempre uma mensagem.

A jornalista ALINE SORDILI viajou para a Austrália a convite da Embaixada da Austrália, da Comissão de Turismo Australiano para a América do Sul, da Study & Adventure, do Insearch Language Centre e do Australian Tourist Comission.

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