São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Sugawa abandona radicalismo juvenil

INÁCIO ARAUJO
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Enfim, Eizo Sugawa apareceu. Ninguém sabia dizer como encontrar o ex-``angry man" do cinema japonês, que nos 60 e 70 foi uma das paixões dos cinéfilos brasileiros. Até a direção do Festival de Cinema de Tóquio se mobilizou para colocá-lo em contato com os brasileiros que vieram ao Japão.
Sugawa, 65, diretor de filmes como ``Morte à Fera", ``Na Trilha das Feras", ``Uma Mulher de Osaka" (da primeira metade dos anos 60), certamente é mais apreciado no Brasil do que no Japão, onde monstros sagrados da crítica torcem o nariz ao ouvir falar dele.
Sugawa é um poço de modéstia. Quando alguém levanta a hipótese de que não foi devidamente valorizado, ele sai fora: ``Naquele tempo, a Toho tinha Kurosawa, Shiro Toyoda e Hiroshi Inagaki."
Sugawa parece ter mais prazer em falar de Mikio Naruse, o mestre intimista de quem foi assistente, do que de si. ``Meus filmes são diferentes dos de Naruse, mas hoje, quando os revejo, percebo que ele me deixou muitas marcas."
É um movimento frequente entre os cineastas de sua geração. Com Oshima também foi assim: primeiro, uma rejeição do cinema da geração clássica; mais tarde, a aceitação de seu valor.
Sugawa foi convidado para as palestras feitas na última quinta, na Fundação Japão, por Walter Hugo Khouri e Ismail Xavier.
Ouviu de boca aberta José Fioroni Rodrigues -o maior especialista brasileiro em cinema japonês- recitar o título original de seus filmes e comentá-los.
Sugawa só fez três filmes desde que deixou a Toho, nos anos 70. Nenhum chegou ao Brasil. Hoje, vive de escrever roteiros para a TV. Em suma, está encostado, como a maior parte dos realizadores de sua geração.
Quando um brasileiro lembrou que a impressão de Tóquio não lembrava nenhum filme japonês, exceto os seus, abriu um sorriso daqui até aqui (leia-se: de orelha a orelha), mas acrescentou: ``De lá para cá, o Japão mudou muito. No tempo de `Caça à Fera' (do início dos anos 70), o sonho dos jovens japoneses era pegar um avião, um quadrimotor, e ir para os EUA. Hoje, os quadrimotores nem existem mais."
O que faria hoje? É um mistério. Em outros tempos, impressionava pelo niilismo. Hoje, lembra seu desesperado radicalismo como algo ``de juventude". É um diretor reconciliado com o Japão e, aparentemente, com a vida. Merece ser redescoberto, pela sua tocada original, pelas suas convicções.
O melhor: é bem possível que se possa ver, em 1996, uma retrospectiva de seus filmes no Brasil. Já começou a ser armada. E Sugawa, ao ouvir a proposta, outra vez sorriu de orelha a orelha.
O crítico Inácio Araújo viajou a convite da Fundação Japão

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