São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995 |
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Pós-cinema pode começar no Japão TVs de alta definição invadem salas AMIR LABAKI
``Visões do Sonho", o primeiro festival internacional de Hi-Vision (como os japoneses batizaram a novidade), acontece em Tóquio no final do próximo mês. Seu programa mistura produções originais em alta definição a filmes e vídeos transferidos para o sistema. ``É uma forma de mostrar sua praticidade", disse à Folha o diretor Hideo Nakazawa, um dos principais pesquisadores do novo formato. Curtas brasileiros serão exibidos no evento. Nakazawa aposta que o sistema japonês vai se tornar o padrão mundial. ``Do ponto de vista da produção, nosso sistema digitalizado é muito superior ao que está sendo desenvolvido na Europa e nos EUA. Diariamente a NHK e outras redes levam ao ar onze horas de programas em Hi-Vision." Mais de setenta mil receptores Hi-Vision, que diferem da TV normal também pelo formato retangular alongado de sua tela, já foram vendidos no Japão. A imagem em 11.250 linhas tem o dobro da definição do aparelho tradicional. A programação diária é oferecida por um canal por satélite. O nó do problema é a transmissão. ``Não conseguimos ainda desenvolver a tecnologia para compactar os sinais digitais, enviá-los a longas distâncias e reabri-los", reconhece Nakazawa. ``A produção é digital mas a transmissão ainda é analógica." Quanto tempo para vencê-lo? ``Acho que no início do próximo século esta tecnologia estará desenvolvida", responde, com cuidado. ``Parece-me que os trabalhos nos EUA neste campo estão mais adiantados do que os no Japão." A atual prioridade do Centro de Pesquisa de Imagens da NHK, que visitamos aqui na última quinta, é o desenvolvimento do Hi-Vision em 3-D (terceira dimensão). Portando óculos similares ao que usamos nos cinemas 3-D, assisti ``Sound Splash", um documentário sobre windsurf realizado no sistema, ainda em testes. O desafio técnico parece superado, mas falta enfrentar a questão estética. O ganho espacial com a tridimensionalidade foi pouco explorado, exceto por uma prancha que parece furar a tela em nossa direção. O que tem isso tudo a ver com o cinema do futuro? Tudo. A TV de alta definição concretiza o cinema eletrônico. Amplia-se ao infinito a capacidade de manipulação da imagem através dos meio infoeletrônicos. Os filmes não mais precisarão ser transportados fisicamente, em latas ou fitas. O cinema do shopping ou a TV da sala de estar serão tecnicamente equivalentes. O rito social da secular situação-cinema, com uma platéia pagante se irmando num espetáculo cinematográfico coletivo, terá suas bases solapadas. Hi-Vision é mais um salto rumo ao pós-cinema. O crítico Amir Labaki viaja a Tóquio a convite da Fundação Japão Texto Anterior: Sugawa abandona radicalismo juvenil Próximo Texto: Livro conta origens da fotografia no Brasil Índice |
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