São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Judaísmo; Eleições; Petroleiros; Decreto antifumo; Ditadura da maioria; Mulheres; Evita Perón

Judaísmo
``A opinião do sr. Hélio Schwartsman e a sua postura são covardes. A idiotia pode ser tolerável (desprezível), a intolerância não. Qualquer intolerância é intolerável (sem prejuízo da contradição) e deve ser combatida. Por uma causa dessas não se deve temer idiotas. Acho até que livros como `Protocolos dos Sábios de Sião' e `Minha Luta' fazem parte da história do povo judeu e deveriam ser publicados pela Federação Israelita, em edições críticas. Quanto a Ellwanger, talvez seja só um idiota, mas não sei em que o artigo do sr. Levin lhe incomoda. Aliás, além de Fest, leia Sartre, em `Reflexões sobre o Racismo', para quem judeus intelectualizados não precisavam se envergonhar nessas situações."
Sérgio Goldbaum (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Hélio Schwartsman - Como bom judeu, respondo às observações do sr. Goldbaum com uma pergunta: Quem sou eu para censurar suas opiniões?

``Concordo com as opiniões do Hélio Schwartsman: a pior coisa que se pode fazer com os neonazistas (por que neo?) é dar-lhes alguma forma de atenção. Isso se aplica também a drogas, vícios e comportamentos oblíquos. Lamento que o Hélio trabalhe e coma no Yom Kipur (afinal, jejuar é uma opção pessoal e independe de lideranças e sacerdotes, além de fazer bem à saúde física e mental). Lamento que não tenha ainda feito o bar mitzvá: ainda é tempo. Outros companheiros meus, dos tempos da UJC e do Partidão, já tiveram essa satisfação da qual o Hélio está se privando. Sem dúvida, as catedrais têm maior valor arquitetônico. Mas, geralmente, são vazias espiritualmente, com raras exceções. Já as sinagogas nem precisam ser prédios especialmente construídos para esse fim. Nós, judeus, podemos rezar em qualquer lugar e sem rabinos. Basta que sejamos, ao menos, dez -e tenhamos feito o bar mitzvá."
Henrique Veltman (São Paulo, SP)

Eleições
``Meus cumprimentos pelo profissionalismo dos jornalistas Josias de Souza e Raquel Ulhôa, da Sucursal de Brasília da Folha . A reportagem sobre o financiamento de campanhas (Eleições S/A), de ontem, em que sou citado, transcreveu minhas declarações de maneira fiel e completa. Creio que dessa vez o chamado outro lado da notícia recebeu tratamento exemplar."
Aldo Rebelo, líder do PC do B na Câmara (São Paulo - SP)

Petroleiros
``A reportagem de Francisco Santos, publicada em 5/10 na Folha, sob o título sensacionalista `Petroleiros ganham R$ 50 mi após greve', traz uma série de equívocos que nos cumpre esclarecer. Após a greve de maio, os petroleiros voltaram ao trabalho sem o cumprimento do acordo de 25/11/94, e tendo ainda um mês de salário cortado. A Petrobrás, consciente do estado de emergência financeira em que os trabalhadores se encontravam, simplesmente antecipou o pagamento de um passivo trabalhista, a PL-83, que sempre é feito no momento da aposentadoria de um empregado da Petrobrás. Não se trata de um `abono', como o repórter afirma erradamente. A antecipação da PL-83 (equivalente a um salário básico) foi feita em doses homeopáticas, dividida em três parcelas, em junho, julho e agosto. Fez pouca ou nenhuma diferença para quem teve um mês de salário bruto cortado -descontos que também estão incidindo nas férias, 13º salário, aposentadoria- e teve suas promoções e aumentos por mérito cancelados após a greve. Além disso, quem já recebeu a PL antecipadamente não terá mais direito a ela na aposentadoria. Gostaríamos de esclarecer, ainda, que a antecipação da PL não foi uma forma de `driblar a decisão do governo de não deixar que a estatal fizesse o ajuste entre as faixas salariais previsto no acordo de novembro de 1994', conforme o repórter avalia. Em primeiro lugar, porque o governo foi consultado a respeito do pagamento da PL. E, obviamente, é absurdo dizer que a antecipação desse passivo trabalhista serve como compensação para o calote que os trabalhadores levaram da empresa, com o descumprimento do acordo dos interníveis. A companhia, ao pagar a antecipação, gastou menos do que se tivesse pago os salários normalmente. Por fim, lamentamos a maneira sensacionalista como foi redigido o título da matéria, que pode levar o leitor a um sério mal-entendido e lança mais preconceito contra uma categoria de trabalhadores que simplesmente luta pela dignidade."
Sérgio Pereira dos Santos, diretor de imprensa da Federação Única dos Petroleiros (Rio de Janeiro, RJ)

Resposta do jornalista Francisco Santos - Sobre os dois pontos da carta que contestam a reportagem, tenho a dizer: 1) Não foi o repórter que chamou o pagamento de abono. O Sindipetro-RJ é que, com essa avaliação, decidiu repassar o benefício aos seus empregados, cumprindo acordo trabalhista; 2) A avaliação de que o pagamento foi uma forma de driblar a inflexibilidade do governo em relação ao acordo interníveis, mais uma vez, não é do repórter, mas de pessoas representativas ouvidas na empresa, que consideraram o pagamento uma forma de contornar parte das dificuldades enfrentadas pelos empregados com a não-efetivação do acordo.

Decreto antifumo
``De modo geral me agrada a maneira como a Folha transmite notícias. Mas a maneira como o jornal está conduzindo a polêmica sobre o decreto antifumo da Prefeitura de São Paulo é irritante, no mínimo tendenciosa. Se nos fiarmos nas reportagens da Folha, ficaremos com a idéia que toda a população de São Paulo é contra a medida, pois todos entrevistados reclamam da mesma. Ora, cadê os não-fumantes?"
José Antonio Atta (São Paulo, SP)

Ditadura da maioria
``Surpreendente a coluna de 28/9 do sr. Otavio Frias Filho pela extrema precisão de termos e conceitos. Mais surpreendente ainda pelo escorregão de uma única palavra (que pode ter sido ao correr da pena ou proposital) quando fala em democracia como `ditadura da maioria', que deveria ser, ao contrário, `...da minoria'. Imprecisão que cheira a ironia, note-se a diferença que faz: no nosso exercício `democrático', que oscila entre pantomima grosseira e ópera-bufa, os atores, em vez de serem de uma só categoria -os cidadãos-, não são nada disso e sim de três categorias absolutamente distintas, os `mais iguais', a massa de manobra e os excluídos. Os primeiros, que em tudo mandam e tudo podem, são basicamente os políticos e as tais classes dirigentes, e talvez não cheguem a 1% da nossa população."
Antonio Dias Ferraz (São Paulo, SP)

Mulheres
``Gostaria de manifestar uma crítica à postura preconceituosa e discriminatória da Folha em relação à mulher. Parto da constatação de que, entre os inúmeros articulistas desse jornal, há somente duas mulheres (pelo menos as que eu conheço). Sendo que uma delas, a Barbara Gancia, é de uma tal irracionalidade que acaba prejudicando ainda mais a representação feminina no jornal. Até mesmo na seção de `Tendências/Debates', é muito raro ver um artigo que tenha sido escrito por uma mulher. A coluna `Saia Justa' é estupidamente preconceituosa! Por que existe um espaço no jornal dedicado exclusivamente a revelar o que há de mais sórdido e vulgar no comportamento feminino? Por que não há uma seção `Calça Larga' para mostrar também os aspectos pitorescos das atitudes masculinas? Por que há aquele quadro `Veneno: de mulher para mulher' ou o `Odeio quando elas...'? Eles não são justamente uma perpetuação e uma expressão de todos os estereótipos e preconceitos que existem em relação à mulher?"
Elizabeth Schmitt Freire (Porto Alegre, RS)

Evita Perón
``Parabenizo a Folha pela excelente matéria intitulada `Livro refaz trajetória do corpo de Evita', de Denise Chrispim Marin. Fui morar na Argentina em 1942. Vi de perto o general Juan Domingo Perón e Eva Maria Duarte de Perón, após o terremoto que assolou a província de San Juan, ocasião em que a pequena notável Evita, de 23 anos de idade, fazia um show beneficente. Foi o início de um relacionamento que duraria dez anos. Eu, iniciante em jornalismo, representante do `El Debate', confesso que me sentia mais um a somar ao incomparável casal: ela, pela beleza; ele, pela postura militar, porte atlético, simpatia e uma habilidade incrível de levar o povo com audácia, por meio de diálogos e gestos teatrais que aprendera com grande afinco de um predestinado a servir à causa pública."
Antonio Dominguez Calvo (Rio de Janeiro, RJ)

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