São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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A educação dos McDonald's

JOSÉ PASTORE

Uma das mais acaloradas controvérsias das ciências sociais atuais é a da intrincada interação entre tecnologia e educação. Para muitos, a revolução tecnológica estaria provocando uma ``desqualificação da mão-de-obra". A automação, ao tornar as tarefas mais simples, estaria a exigir pessoas pouco qualificadas.
Os exemplos citados são intuitivos e chegam a confundir. As máquinas registradoras dos McDonald's, por exemplo, possuem figurinhas com os diversos tipos de sanduíches, o que dispensaria até mesmo a alfabetização.
Os computadores embutidos nos teares modernos resolvem todos os problemas, transformando os tecelões em meros espectadores. Os caixas eletrônicos dos bancos eliminam os funcionários e, dentro em breve, acabarão com as agências.
As novas tecnologias têm, de fato, esse efeito de simplificar as tarefas e exigir menos qualificação para quem as realiza. Mas os impactos tecnológicos sobre o fator trabalho não se limitam à simplificação das tarefas.
As novas tecnologias provocam profundas mudanças nos modos de trabalhar. Numa loja do McDonald's, por exemplo, o trabalho é feito com uma velocidade meteórica; as combinações dos pedidos são as mais variadas; muitas delas são especiais; e os fregueses têm de ser bem atendidos.
Tudo isso exige uma série de novas capacidades por parte dos jovens que ali atuam. Eles precisam saber trabalhar em equipe. Têm de ser cordiais, alertas, velozes. Sobretudo, precisam ser capazes de apreender novas tecnologias e novos métodos de trabalho que ali entram de hora em hora. Para tudo isso, a educação é essencial.
Por mais adestrado que o funcionário seja para apertar as figurinhas da máquina registradora, isso não é suficiente para ele pertencer àquela ``nova orquestra". Adestramento não garante aprendizagem contínua.
As novas tecnologias criam ambientes de trabalho que demandam novas capacidades. Elas vão exigindo pessoas cada vez mais educadas, polivalentes, multifuncionais. No exemplo da tecelagem, a velocidade é também enorme.
A moda faz as padronagens mudarem dia a dia. As novas fibras deslocam as antigas de uma estação para outra. Os pedidos são cada vez mais individualizados. O seu controle é complexo. As entregas têm de ser muito rápidas. A comunicação é intensa e exige precisão. Tudo isso requer tirocínio e muita habilidade para resolver problemas e transferir conhecimentos de um campo para outro.
No banco, igualmente, as transformações são imensas. A função de caixa, de fato, encolhe. Mas os funcionários têm de se capacitar para vender produtos, atrair clientes, melhorar a imagem da empresa. Eles precisam acompanhar o mercado financeiro. Conhecer os produtos da concorrência. Saber organizar argumentos. Estar sempre prontos para resolver problemas e assim por diante.
As novas tecnologias, portanto, deslocam as pessoas de uma atividade para outra; criam novas famílias de atividades; exigem atenção; requerem agilidade mental; enfim, demandam muita educação.
A revolução tecnológica veio para ficar. O mundo do futuro terá poucas oportunidades para as pessoas desqualificadas. Não haverá lei, sindicato ou partido capaz de convencer os empresários de amanhã a contratar uma mão-de-obra despreparada.
As melhores armas para atenuar o desemprego estrutural são a educação, a reciclagem e a reconversão profissionais. No Brasil, é urgente colocar toda a ênfase nesses processos, para assegurar uma melhor empregabilidade para a nossa juventude.

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