São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Fusão étnica é `tempero' da cozinha local

MARIE-FRANCE HENRY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando a chuva, o frio e o vento chegam à Europa, bastam algumas horas de avião para uma mudança radical de cenário.
Nas Antilhas, o verão é eterno -todos os sentidos acordam ao mesmo tempo.
As cores fortes na paisagem tropical, os perfumes de baunilha e canela flutuando nas feiras, ritmos dançantes sempre presentes numa vida noturna intensa.
É nesse "décor que vive uma sociedade cujos traços foram sendo definidos por um passado colonial e cujo apelido -``Les Isles à Sucre"- definiria por longos anos a principal atividade.

Diversidade étnica
Na gastronomia, é a diversidade étnica que foi definindo a personalidade da cozinha créole.
Os colonos franceses chegaram em 1635, trazendo logo em seguida os escravos africanos. Em meados do século 19, com o fim da escravidão, os asiáticos trouxeram as especiarias e, os espanhóis, os pés de laranja e limão.
A cozinha créole, síntese gastronômica de várias culturas, é uma cozinha perfumada e muito condimentada, caracterizada por carnes, peixes e crustáceos que ficam a marinar em temperos à base de alho, limão, pimenta, noz-moscada, gengibre e legumes como inhame, jaca, quiabo, moranga e abóbora.
Sem queijos e sem vinhos, os estrangeiros adaptaram suas tradições aos produtos locais e criaram pratos como um "chucrute de papaias verdes" (para substituir o repolho) ou um "frango cozido ao rhune" (no lugar do vinho tinto).
Outras especialidades são os "acras" -bolinhos fritos muito apreciados como petiscos-, feitos de bacalhau, quiabo ou abóbora.
Também são muito presentes os pratos à base de "colombo" que, como o curry, é uma mistura de especiarias. Com o ``colombo", são feitos pratos com porco, lagosta, ou apenas legumes.
Em Guadalupe, a gastronomia ocupa papel tão importante que é homenageada com uma grande festa anual. Nessa comemoração, todas as cozinheiras, vestidas com suas roupas tradicionais, vão em procissão até a igreja de Pointe-à-Pitre onde é celebrada uma missa em sua honra e servida uma grande e sofisticada ceia.
Ao final, todos entoam a "Ronda das Cozinheiras", uma canção que celebra o papel essencial da arte dessas mulheres.

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