São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Obra premiada é bem popular

HELEN MEANY
DO WORLD MEDIA

Seamus Heaney disse certa vez que teve sorte desde o primeiro dia em que empunhou uma caneta, e admitiu que isso lhe provoca certa inquietude.
À primeira vista, de fato, o caminho que percorreu pode parecer fácil -embora essa impressão seja enganosa. Desde uma primeira coletânea publicada pela Faber quando tinha 25 anos até a conquista do reconhecimento e afeto do público em seu país e no exterior.
Mas nem mesmo o rival mais invejoso poderia argumentar que apenas a sorte pudesse ter garantido a Heaney cargos acadêmicos cobiçados em Harvard e Oxford e uma sucessão de prêmios e doações, agora coroados com o prêmio Nobel.
Numa época em que a poesia é, segundo Germaine Greer, alvo de atenções especializadas -``não tão altamente cotada quanto a comida, mas mais do que as danças de salão"-, os ingressos para uma leitura de poemas por Seamus Heaney costumam esgotar rapidamente. Suas coletâneas são best sellers.
Seamus Heaney é um fenômeno raro: um poeta genuinamente popular.
Ele não se detém sobre as complexidades, mas se compraz no formato das palavras que utiliza, rolando as vogais num melífluo sotaque típico de Derry, sempre acessível, sempre convidando a participação da platéia. É claro que também tem sido alvo de críticas.
Primeiro poeta irlandês desde Yeats a ter ganho fama internacional, Heaney sobreviveu ao exame intenso e minucioso da mídia, conservando seu jeito simpático, que lembra um tio carinhoso, além de sua aparente recusa em atribuir importância excessiva a si mesmo.
Heaney sempre foi uma ``traça de livros". Nascido perto de Castledawson, Co Derry (Irlanda do Norte), no dia 13 de abril de 1939, foi o mais velho de oito filhos de pais católicos nacionalistas. A saudade de sua família e dos campos em que costumava trabalhar ao lado do pai dominou os primeiros anos que passou na faculdade St. Columb's, em Derry.
Sua educação literária começou a sério na Queen's University, em Belfast, dando início à transição entre filho de agricultor e poeta. Mais tarde Heaney se juntou ao grupo de escritores que se reuniu em torno do palestrante inglês Philip Hobsbaum, e que incluía Derek Mahon, Michael Longley e Stewart Parker. Hobsbaum apresentou a poesia contemporânea a seus alunos.
Depois de formar-se na Queen's com distinção em inglês, Heaney lecionou na escola secundária St. Thomas, em Ballymurphy, antes de retornar à Queen's como palestrante.
Heaney sempre foi um acadêmico que trabalha constantemente. Em 1980, ao lado de Seamus Deane, Brian Friel, Stephen Rea, David Hammond e Tom Paulin, fundou o projeto Field Day, hoje desativado.
O projeto começou como companhia de teatro e se expandiu, transformando-se num foro de discussões culturais focalizando a situação da Irlanda do Norte.
Desde 1984, Heaney é professor de poesia e retórica na Universidade Harvard.
Desde 1989, é professor de poesia em Oxford, cargo que exige que dê uma série anual de palestras, que ele procura dirigir aos poetas jovens, e não tanto aos críticos mais velhos.
Mas Heaney quase sempre consegue atingir ambos os lados -e isso não pode ser atribuído à sorte.

Tradução de Clara Allain

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