São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Joey Arias expõe na tela a ferveção drag

GEANE BRITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA EM NOVA YORK

Joey Arias é uma das drag queens mais fervidas de Nova York, ao lado de RuPaul, Mistress Formika e Lady Bunny. Canta, dança, faz performances e há quatro anos tem uma coluna na revista alternativa ``Paper". Este ano participou do filme ``Wigstock" (festival da peruca que reúne drags e descolados todo ano em Nova York) e faz uma participação no filme ``Too Wong Foo" (sobre três drags).
Quando chegou a cidade em 76, vindo da Carolina do Norte, Arias adotou o pseudônimo de Justine.
Nos anos 90 virou Joey Arias de novo. Suas performances foram influenciadas por movimentos artísticos, como por exemplo, o Surrealismo com imitações de Salvador Dali e de sua mulher Gala. Ele falou de sua carreira a Folha em Nova York. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha - Quais são as maiores inspirações no seu trabalho?
Joey Arias - Billie Holiday, Andy Warhol e o diabo. Não, a terceira teria que ser catolicismo. Eu cresci numa casa de católicos. Missas, igrejas e ladainhas fizeram parte da minha vida.
Folha - Você fala a sua idade?
Arias - Nunca. As vezes, quando eu quero que as pessoas entendam o que eu realmente sou, eu digo: "Eu tenho entre 35 e a morte," imagine o que quiser.
Folha - Existe uma diferença entre o seu trabalho e o das outras drags?
Arias - Minha vida é uma eterna performance. Eu cresci num mundo de performances. A diferença do meu trabalho e o das outras drags é que elas usam uma outra pessoa como fachada. Elas se transformam na pessoa cujo nome elas representam. Eu extravaso da alma para o mundo exterior.
Folha - Você fala que a Greenwich Village é o berço da cultura drag, porquê?
Arias - Na verdade, a cultura drag está espalhada por toda a cidade. Mas a cultura drag que nós conhecemos nos anos 90, começou em Greenwich Village com a Lady Miss Bunny.
Folha - O movimento drag era separado do movimento gay?
Arias - Existia uma separação muito grande. Agora com a Aids, todos estão juntos. A comunidade é uníssona na verbalização da dor. A dor une as pessoas.
Folha - Qual a diferença entre os drag shows de hoje, e aqueles do começo dos anos 70?
Arias - Nos anos 70, todas queriam ser Barbra Streisand e Diana Ross. Agora o que vale é a imaginação.
Folha - E a dublagem?
Arias - Dublar é coisa de filme antigo. Hoje ganha quem faz comédia, quem desenvolve uma performance nova, picante.
Folha - Você é também bem conhecido como colunista social.
Arias - Nunca fui bom em gramática. Mas o pessoal que lê a ``Paper" gosta do meu jeito torto de escrever. Minha coluna vai fazer quatro anos. Eu adoro essa outra faceta, a de cronista.
Folha - No Brasil, assim como nos EUA, drag é moda. RuPaul escreve uma biografia e vira garota propaganda com a marca de maquiagem Mac. Você acha que estas histórias de sucesso vão influenciar o pensamento que é fácil ser drag?
Arias - Eu considero estas histórias uma grande inspiração. São sonhos e eu acho que ninguém deve ser impedido de sonhar. Não é fácil, mas existem muitas portas. A única forma de saber se elas estão abertas é tentando entrar.

Excepcionalmente não publicamos a coluna Noite Ilustrada

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