São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Impunidade privada

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Mestre Janio de Freitas chamou a atenção, dias atrás, para mais um escândalo na Previdência, esse comandado pelo argentino Cesar Arrieta.
Passei, por isso, a acompanhar o caso pelos jornais até encontrar na Folha de ontem a seguinte informação: ``A Procuradoria da República adiou para segunda-feira a denúncia do argentino Cesar Arrieta à Justiça sob a acusação de corrupção. Deverão ser denunciados também funcionários e ex-funcionários do governo federal".
Ótimo. A corrupção está finalmente sendo perseguida, não é? Pena que faltem detalhes nessa história. De que tipo de fraudes é acusado Arrieta? Chefiava uma quadrilha que arrombava cofres da Previdência e ia retirando dinheiro até amontoar suculentos R$ 3 bilhões, valor que se supõe ser o tamanho da maracutaia?
Criava ``fantasmas" que recebiam aposentadorias ou pensões indevidas, até os tais R$ 3 bilhões?
Talvez tenha até feito tudo isso. Mas um fiapo de informação dado outro dia por um dos telejornais (creio que da Globo) dizia que o crime de Arrieta era o de ``limpar" débitos de empresas para com a Previdência. Em troca, é claro, de uma módica importância.
Dá portanto para deduzir que os tais funcionários e ex-funcionários a serem denunciados facilitavam o mecanismo que beneficiava empresas.
Falta, por extensão, responsabilizar as empresas e saber seus nomes, certo? Afinal, o bom senso indica que, sem demanda pela fraude, não haveria a oferta dela, comandada pelo tal de Arrieta.
É mais ou menos como no caso PC Farias. Todo o esquema de corrupção da época tinha, numa ponta, funcionários públicos e, na outra, expoentes do setor privado. Mas se ficou na investigação (aliás precária) da ponta, digamos, pública. Da privada, nunca mais se ouviu falar.
Vai acontecer de novo, no caso do escândalo Arrieta? É provável que sim, a julgar pelo andamento das coisas. O que é um estímulo para que futuros Arrietas apareçam por aí, porque a demanda vai continuar. E impune.

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