São Paulo, sábado, 14 de outubro de 1995
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MST define prazo para governo assentar

PAULO FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL AO PONTAL DO PARANAPANEMA

Os sem-terra do Pontal do Paranapanema devem continuar acampados até a próxima quarta-feira a poucos metros das áreas do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Taquaruçu e da fazenda São Domingos. As duas áreas foram desocupadas às 23h55 de anteontem, depois de quase seis dias da invasão.
O novo acampamento foi montado à beira da rodovia que liga Teodoro Sampaio a Sandovalina, numa região que dista entre 650 km e 700 km a oeste de São Paulo.
Os invasores decidiram permanecer nesse local até quarta-feira, quando líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) vão se reunir com o secretário da Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos Jr., e o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano.
Na reunião, segundo o MST, deverá ser negociada uma solução definitiva para a cessão de parte da área da usina Taquaruçu, que pertence à Cesp (Companhia Energética de São Paulo).
``Se nada de concreto ficar decidido nesta reunião, vamos tomar nossas providências, afirmou, ontem de manhã, o líder dos sem-terra, José Rainha Júnior.
Rainha disse ainda que a negociação prevista para quarta é só para resolver o problema da área da Cesp. ``Isso não impede que novas ocupações aconteçam, disse.
A desocupação espontânea da área começou às 23h55 de anteontem. A decisão havia sido tomada 15 minutos antes em reunião entre Rainha e os coordenadores nacionais do MST, Gilmar Mauro e Felinto Procópio, o Mineirinho.
Mauro e Mineirinho chegaram a Teodoro Sampaio às 21h30 de anteontem, preocupados com o rumo das negociações para a desocupação da área. Até o final da tarde de anteontem, Rainha dizia que os sem-terra não abandonariam as áreas pacificamente.
No final da noite de anteontem, em poucos minutos de reunião, a decisão foi tomada. Às 23h55 as cornetas tocaram para acordar os sem-terra e, cinco minutos depois, as áreas começavam a ser desocupadas.
Ontem de manhã, já com 31 barracos montados, Rainha explicava que a decisão já havia sido tomada anteontem à tarde, mas mantida em sigilo ``por questões de segurança. Mauro e Mineirinho faziam questão de negar qualquer imposição na decisão final de abandonar a área.
Às 14h30 de ontem, um vento forte seguido de chuva preocupou os acampados. Os sem-terra estavam instruídos a voltar para os alojamentos da Cesp caso chovesse muito. A orientação previa que eles deixassem o local logo que a chuva parasse. Mas a chuva não demorou muito e ninguém precisou voltar para os alojamentos.
Pouco depois, todas as lideranças dos sem-terra entraram em reunião com Rainha, Mauro e Mineirinho, na sede da fazenda São Bento, local usado para os encontros do MST. Mesmo sem energia, interrompida pouco antes da ventania, a liderança do movimento prometia ``passar a noite" reunida para rediscutir os rumos do movimento.

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