São Paulo, sábado, 14 de outubro de 1995 |
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Físico ganha Nobel da Paz por combater arma nuclear
OTÁVIO DIAS
A decisão da comissão julgadora do Prêmio Nobel trouxe uma clara mensagem de reprovação à retomada dos testes nucleares franceses no Pacífico Sul, assim como à continuação dos experimentos nucleares programados pela China. ``Uma das razões da escolha é a intenção de protestar contra testes nucleares e contra armas nucleares em geral", afirmou o presidente do comitê, Francis Sejersted, ao anunciar os homenageados. ``Essa é uma mensagem a todas as potências nucleares do mundo." Em entrevista à imprensa, concedida no início da tarde em frente ao modesto escritório da Pugwash no centro de Londres, Rotblat, até ontem pouco conhecido fora do meio científico, afirmou ter ficado surpreso com a nomeação. ``O comitê do Nobel decidiu homenagear um homem de quem ninguém ouviu falar e uma organização cujo nome lembra o de um pirata-capitão de história em quadrinhos", disse. Rotblat visitou o Brasil no início do mês. Nascido em Varsóvia, na Polônia, em 1908, Rotblat emigrou para o Reino Unido em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial. No começo dos anos 40, viajou para os EUA e integrou a equipe de cientistas que desenvolvia a primeira bomba atômica americana. Em 1944, entretanto, Rotblat abandonou o projeto e deu início à sua campanha pacifista. Em 1955, foi um dos 11 cientistas a assinar um manifesto contrário às armas nucleares, ao lado de Albert Einstein e Bertrand Russell. Dois anos depois, organizou a primeira reunião da organização Pugwash, na Província de Nova Scotia (Canadá). ``Esse prêmio é o reconhecimento do trabalho de minha vida e do esforço de vários outros cientistas", afirmou. Durante a entrevista, o novo Prêmio Nobel da Paz enviou um recado ao presidente da França, Jacques Chirac. ``O comitê na Noruega decidiu que eliminar as armas nucleares é a coisa certa a fazer", disse. ``Testar armamentos nucleares é errado e peço a ele que reconsidere novamente os testes." Segundo Rotblat, o movimento pacifista precisa ter como meta algo que é ``completamente utópico". ``Nosso objetivo é acabar com todas as guerras, não apenas com as guerras nucleares." Ao ser perguntado sobre o que faria com sua parte do prêmio de US$ 1 milhão, brincou: "Ainda não vi a cor do dinheiro". ``Temos trabalhado em condições financeiras muito difíceis. Será ótimo ter uma acomodação decente e poder convidar pessoas para nossas reuniões e pagar pelos gastos de suas viagens", disse. Texto Anterior: Marcha de negros pode ser a maior dos EUA Próximo Texto: Só Portugal reclama da escolha Índice |
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