São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Mudança demora `dez anos'

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Administração e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, 61, é um otimista.
Apesar de ser torpedeado diariamente por deputados e senadores, acredita que sua reforma administrativa vai passar pela Comissão de Constituição e Justiça nesta semana.
Para ele, uma reforma dessa amplitude leva algum tempo para surtir todos os seus efeitos. Algo como na Inglaterra, país que demorou cerca de dez anos para modernizar os seus serviços públicos.
A seguir, trechos da entrevista do ministro à Folha:
(FR)

Folha - Apesar do esforço do governo, vários parlamentares atacam a reforma administrativa em público. Por que acontece isso?
Luiz Carlos Bresser - Isso chama-se patrimonialismo. É verdade. É um escândalo.
Folha - Esse tipo de declaração não é um prenúncio de uma derrota da reforma?
Bresser - Acho que vai ser apertado, mas nós ganharemos. Uma coisa são declarações para o jornal, para atender a sua clientela. Eu sei de deputados que vão votar a favor, mas estão fazendo declarações para consumo da clientela.
Folha - Quanto tempo vai demorar para que ocorra uma mudança de atitude dentro do serviço público?
Bresser - Eu costumo dizer que tem uma prática patrimonialista e uma forte cultura burocrática.
E a cultura burocrática é o contrário do Estado -as pessoas estão pouco se lixando para o cidadão. Enquanto que na cultura gerencial, o cidadão é o cidadão-cliente -tudo tem de estar voltado para esse cidadão.
Folha - E quanto tempo demora para que isso exista na prática?
Bresser - É um trabalho de médio prazo, não de longo prazo. Isso foi feito na Inglaterra, na Austrália e na Nova Zelândia. Isso foi feito nos últimos dez anos.
Folha - E o sr. acha que em dez anos isso ocorre aqui?
Bresser - Ah, claro.
Folha - Um cidadão brasileiro, no ano 2005, será bem atendido nas autarquias?
Bresser - Vão estar muito melhores, mas não vão estar perfeitas. Porque nada é perfeito em administração -pública ou privada.
As reformas que estamos fazendo são para nós, para os nossos filhos e para os nossos netos. Se não passar passar tudo, fica para os nossos filhos e nossos netos. Ninguém está querendo mudar o mundo da noite para o dia. É preciso respeitar a cabeça das pessoas, a cultura das pessoas, tudo isso tem que ser respeitado -e está sendo respeitado.

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