São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Bresser quer criar o cidadão-cliente

Agências do governo serão autônomas

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora a maior discussão sobre a reforma administrativa esteja concentrada na estabilidade -ou não- dos funcionários públicos, o principal está reservado para a fase seguinte.
Trata-se da reforma do Estado propriamente dita. Já que contratar ou demitir funcionários é apenas um pré-requisito para fazer alguma coisa.
O ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, costuma reclamar que poucos dão atenção ao seu Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado.
Em 55 páginas, ele lista seus argumentos e faz propostas para reformar o Estado. Basicamente, Bresser quer uma transição do que chama de administração pública ``patrimonialista e burocrática" para uma forma ``gerencial" de tratar os negócios do governo.
O ministro explica em seu plano:
``A administração pública gerencial inspira-se na de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. Enquanto a receita das empresas depende dos pagamentos que os clientes fazem livremente na compra de seus produtos e serviços, a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições obrigatórias, sem contrapartida direta."
A administração pública gerencial, prossegue Bresser, ``vê o cidadão como contribuinte de impostos e como cliente dos seus serviços".
E por que esse novo tipo de abordagem garantiria um serviço melhor? Porque haverá descentralização dos serviços, com mais autonomia, incentivo à criatividade e recompensa pelo desempenho -segundo promete o ministro.
Além da emenda constitucional, a reforma administrativa criará as organizações sociais e as agências autônomas.
As organizações sociais, na explicação de Bresser, ``correspondem ao que são hoje as fundações públicas de direito privado -como universidades, hospitais e museus".
Terão autonomia de funcionamento. ``Isso aumenta a eficiência e a obrigação de seus dirigentes", diz o ministro.
As agências autônomas serão os organismos que exercem as atividades exclusivas de Estado. ``As antigas autarquias, por exemplo, que estão totalmente desmoralizadas", explica.
Lógico e racional, o Plano Diretor de Bresser omite um ponto importante: como evitar, mesmo na administração gerencial, as demissões políticas.
A estabilidade atual impede a demissão política. Mas permite a contratação -e o Estado incha. Com chance de demitir, um político inescrupuloso poderia mandar embora qualquer servidor para colocar em seu lugar um apadrinhado.
(FR)

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