São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Falta controle gerencial na gestão de municípios

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Atraso de anos-luz no processo de informatização, ausência de indicadores confiáveis para aferir a qualidade dos serviços públicos e de controle de despesas, além de excessivo contingente concentrado nos escalões burocráticos.
Esses são alguns dos problemas responsáveis pela deterioração da máquina municipal no país, detectados pela consultoria Arthur Andersen, com base no mesmo método de gestão utilizado, na década passada, para sanear a prefeitura de Nova York.
``Setenta por cento do funcionalismo está lotado em serviços internos, que são os mais disputados", afirma o sócio-diretor Edgar Jabbour. A população é atendida pelo pessoal pior remunerado.
Segundo afirma o consultor, seria possível cortar gastos públicos pela metade apenas reduzindo o desperdício, além de melhorar os serviços, se as prefeituras adotassem práticas rotineiras nas empresas.
Por exemplo: para dimensionar as reais necessidades do público-alvo -os contribuintes-, as prefeituras deveriam auditar indicadores de performance.
``Hoje não somente inexiste aferição de qualidade dos serviços prestados como até mesmo informações básicas como taxa de repetência no município não merecem crédito".
Ocorre que, em geral, as notas fiscais de compras são contabilizadas como despesas, sem que haja controle sobre o estoque remanescente. ``É isso que possibilita roubalheira", diz Jabbour.
Qualquer empresa que aspira sobreviver estima a importância de manter as rédeas sobre a inadimplência. ``Já a estrutura de arrecadação dos municípios não consegue sequer controlar as contas a receber", diz Jabbour.
Resultado disso é a acumulação, como bola de neve, da dívida ativa e processos judiciais que se arrastam por anos, até serem prescritos. ``Se os impostos fossem lançados numa conta mensal, o poder público poderia agir na cobrança como qualquer empresa".
Para Rogério Igreja Brecha, sócio da consultoria Ernst & Young, o principal problema da administração pública é o atraso abissal de sistemas informatizados, em comparação aos que operam no setor privado.
``Não se trata de inchaço de quadros, mas de excesso de tarefas manualizadas", afirma. Isso significa que cortar pessoal na área de infra-estrutura não resolve. ``Faltam treinamento e planejamento de carreira, o que gera um estado de desmotivação".

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