São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995 |
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Picadinho à paulista
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O estacionamento da casa de espetáculos Olympia, por exemplo, deve ser, no gênero, o mais caro do mundo. Cobra R$ 17,00 para guardar um carro durante o show. E nem tem garagem: usa um posto de gasolina na esquina. Faz com que o mesmo serviço, na Tom Brasil, que custa R$ 9,00, pareça barato -e não é. Na semana passada, o repórter Fernando Rodrigues comentou os R$ 46,38 que pagou por dois pratos de creme de palmito, guaraná e fatia de pão, no Nabuco, que não é dos mais caros da cidade. Recebeu carta de Carlos Alberto Dória, que não explica o preço, mas diz que a idéia de que em São Paulo as coisas devam ser mais baratas do que em Paris ou Nova York é ``colonizada". Seria útil saber quanto os restaurantes daqui pagam a seus empregados, quanto pagam por seus produtos e quais são suas margens de lucro -e comparar com equivalentes em Paris ou Nova York. Enquanto isso, o mamão, esse novo herói da política econômica, é responsável pela maior deflação registrada no país desde 69. Porta do restaurante Spot, noite de domingo. Um grupo -que reunia até proprietário da casa- fumava do lado de fora. Bem, meia-volta, saída pela esquerda: todos para o Pasta e Vino, conhecido pelos sócios da madrugada como bar do Pedrão. Tem liminar contra o decreto antifumo e abre 24 horas. Restaurantes que cumprem o decreto já perdem até 30% de frequência. Esperança vã: talvez com isso reduzam os preços. Gíria de última hora, candidata a hype no mundinho e adjacências: -``Querida, hoje eu vou pegar levíssimo." -``Já eu vou chutar a santa!" ``Senna: obra divina. Complexo viário Ayrton Senna: obra de empreendedor. Parabéns prefeito" . Essa pérola da bajulação (ou da autopromoção) está lá, num cartaz, para leitura dos que passam pela avenida 23 de Maio nesses dias de túnel novo. Para que servem esses ``complexos viários" que Paulo Maluf inaugura à torta e à direita? Além de compor a imagem de tarefeiro do prefeito, unicamente para realimentar a perversa vocação dessa cidade, como nunca intransitável, para o uso do automóvel. O primeiro efeito do túnel, diz a Companhia de Engenharia de Tráfego, foi piorar o trânsito na região do Ibirapuera. A CET pede mais um mês para uma avaliação definitiva. Aguardemos. E a escultura na entrada do túnel, feita por uma carioca? Dizem que é a vingança do Rio por aquele polvo que a Tomie Othake mandou para a lagoa Rodrigo de Freitas. Pode ser. Mas não precisava tanto, queridos. As recentes presepadas do prefeito paulistano culminaram com a tal maratona idealizada para mostrar suas obras na Rede Globo. A emissora recebeu R$ 1,2 milhão do bolso do contribuinte para organizar e transmitir o evento. Valeu? Almodóvar, Stevie Wonder, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Célia Cruz, entre outros, brevemente na área. Menos mal. Texto Anterior: Falta controle gerencial na gestão de municípios Próximo Texto: Nordeste brasileiro dá o tom do 3º fascículo Índice |
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