São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Real elimina os bancos pequenos

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A estabilização econômica promovida pelo Plano Real acelerou no país uma tendência internacional: bancos pequenos e médios e instituições regionais se fundem ou desaparecem.
A conclusão é do analista de mercado financeiro Francisco Abreu, autor de um estudo finalizado em setembro sobre o efeito do Real na saúde do sistema financeiro do Brasil.
Abreu é analista da Moody's Investors Service -empresa norte-americana que classifica países de acordo com os riscos que as operações de crédito e investimento representam.
Segundo o estudo, o maior desafio das instituições financeiras consiste em manter a qualidade dos empréstimos e a lucratividade das operações com inflação baixa.
Apesar das restrições ao crédito determinadas pelo Banco Central -depósito compulsório sobre o dinheiro captado pelas instituições-, o volume de empréstimos aumentou 27% em termos reais (descontando a inflação) no ano.
Os bancos têm de emprestar mais para compensar o fim do chamado lucro inflacionário. O problema, diz Erivelto Rodrigues, diretor da consultoria Austin Asis, é que as operações têm maior volume de crédito problemático.
``A inadimplência aumentou e a rentabilidade caiu. Bancos pequenos têm dificuldade até mesmo para manter o capital mínimo exigido, de US$ 7,8 milhões", diz.
Os créditos em atraso (até 60 dias) ou em liquidação (superiores a 60 dias) aumentaram 45% em termos reais entre 1993 e 1994.
A situação é pior para as instituições oficiais. O estudo da Moody's mostra que apenas o Banco do Brasil, o Banespa e o Meridional (federalizado) eram responsáveis, em 31 de dezembro de 1994, por 31% dos empréstimos de todo o sistema bancário e 68% dos créditos problemáticos.
O motivo para a lucratividade menor e a maior inadimplência (operações de crédito em atraso) do sistema bancário é, principalmente, o fim do lucro inflacionário conjugado aos juros altos.
Na avaliação do analista Francisco Abreu, os juros só podem baixar quando o governo puder abrir mão da âncora cambial que segura a inflação. Para isso, são necessárias reformas que garantam o ajuste das contas públicas.
Além de diminuir a lucratividade, o fim dos ganhos inflacionários evidencia problemas de ineficiência. Ganhos de produtividade se tornam fundamentais.
A previsão de Francisco Abreu é que o aperto ao crédito determinado pelo BC reduzirá o volume global de empréstimos neste ano, mas a partir do terceiro trimestre os créditos problemáticos devem aumentar, por causa do aquecimento econômico de final de ano.
Abreu afirma que os bancos brasileiros têm provisionado créditos (separado dinheiro) em nível adequado para evitar problemas. Paralelamente, a continuar a estabilidade de preços, Abreu alerta para a necessidade de os bancos cortarem custos operacionais.
Segundo seu levantamento, várias redes bancárias nacionais têm feito isso por meio de informatização e redução de mão-de-obra. Os cortes devem ser aprofundados, imagina Abreu, mas os bancos pequenos e médios ``serão forçados a se fundir ou desaparecerão".
Abreu parte do princípio de que as pequenas instituições não terão fôlego para sobreviver ao período de transição do Real (juros altos e crédito apertado) e se adequar à realidade de inflação controlada.

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sobre bancos na pág. 2-4

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