São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novos fundos aumentam os lucros dos bancos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova estrutura de fundos de investimento está elevando os ``spreads" bancários. É que o CDB vendido na agência tem concorrência que remunera menos.
O novo FIF de 30 dias sofre compulsório de 5%. De cada R$ 100 aplicados, R$ 5 ficam depositados no Banco Central, sem receber qualquer remuneração.
Logo, o novo FIF paga menos do que os fundos de 30 dias antigos -remunera com taxa ao redor de 95% do CDI (taxa dos negócios entre bancos). Era de 97%.
A outra alternativa de 30 dias, a caderneta de poupança, saiu perdendo com a nova fórmula de cálculo da TR (Taxa Referencial), que também passou a vigorar em outubro. Deve pagar 77% do CDI.
Assim, com a concorrência pagando menos, os bancos puderam reduzir os juros oferecidos pelos CDBs nas agências (pequenas quantias).
A queda é, por enquanto, equivalente a 3,2 pontos percentuais ao ano. Mas será maior. É que os FIFs de 30 dias ainda não estão depositando o equivalente a 5% do que captaram no BC.
Existe um hiato entre a apuração dos recursos aplicados no FIF e o depósito realizado no BC. Os fundos continuam crescendo nesse intervalo e o depósito acaba não refletindo o total aplicado.
Assim -e isso também ocorre nos FIFs de curto prazo-, o fundo acaba pagando mais nessa transição (por conta da diferença no cálculo do compulsório) do que vai pagar daqui para a frente.
A nova estrutura dos fundos criou o cenário propício para a elevação dos ``spreads" -e, por consequência, do lucro dos bancos. Esse processo está ocorrendo em duas direções.
Na ponta da aplicação, o CDB para pequenas quantias paga menos hoje do que até setembro; mas o CDB para grandes aplicadores continua pagando o mesmo.
Na ponta do crédito, o medo da inadimplência (e um arsenal de impostos e compulsórios) ainda sustenta taxas de juros proibitivas -como quer o BC. Como a taxa para captar recursos caiu, aumentou o ``spread" entre o custo de captação e o do empréstimo.
Na média do mercado, um empréstimo para pessoa física por 30 dias sai por juros de 8,5% ao mês. Para empresas (excluídas as de grande porte), o juro cobrado fica ao redor de 4,5%.
A Folha simulou com base nessas taxas e estimando um juro pago no CDB de 3% (bem mais alto do que o pago nas agências) a distribuição dos ganhos em uma operação de empréstimo (veja arte).
Em ambos os casos, o banco captou R$ 100 mil em um CDB pela taxa de 3% ao mês. Logo, o banco deve ao aplicador R$ 3.000.
Se o empréstimo foi concedido a uma pessoa física, ela vai dever ao banco, além do principal (o dinheiro tomado emprestado, no caso, R$ 76.190,48), outros R$ 6.476,19 de juros. O banco vai receber ainda do BC a remuneração de parte do compulsório depositado, que é estimada em R$ 600,00.
O ganho bruto do banco é de R$ 4.076,19. Depois do pagamento do PIS, do IR e da Contribuição Social, o ganho é de R$ 1.768,92.
Se o empréstimo for para uma empresa, o ``spread" é menor e o ganho do banco também. O ganho bruto é de R$ 1.028,57 e o líquido, de R$ 442,67.
No primeiro caso, do custo real da operação, o governo (via impostos e compulsórios) se apropria de 61,66%; o investidor, de 11,6%; e o banco, de 26,75%. No segundo, cresce a participação do investidor (28,2%) e caem a do governo (55,5%) e a do banco (16,3%). Ou seja, se os ``spreads" são elevados, por conta dos impostos e compulsórios criados pelo governo para encarecer o crédito, os ganhos dos bancos nessas operações são também altos.
É preciso levar em consideração, porém, que o grosso dos empréstimos (de 70% a 80% do volume) é direcionado para empresas.

Texto Anterior: VW investe US$ 500 mi no ABC
Próximo Texto: Entenda como é formado o juro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.