São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diário de viagem ao México _ 2

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O sistema bancário mexicano tem apenas 18 instituições, a maioria nas mãos de antigos corretores da Bolsa de Valores. Os banqueiros tradicionais foram afastados com a estatização na crise da dívida externa de 1982.
Os corretores, que fizeram uma fortuna incalculável com o boom do mercado de ações no início do governo Salinas, mudaram de status quando as instituições financeiras foram privatizadas. Pagaram fortunas pelos bancos vendidos pelo governo, cometendo o primeiro de uma série de erros.
O segundo erro gerado por esta falta de experiência veio com o boom de consumo de 92/94. Para rentabilizar o capital investido, expandiram de forma irresponsável as carteiras de empréstimos.
Diante de um Banco Central que assistiu passivamente, os bancos ainda sem cultura adequada e controles eficientes passaram a tomar volumosos recursos no mercado internacional e emprestá-los para pessoas físicas e empresas.
A crise do peso, em dezembro passado, atingiu duplamente os bancos mexicanos. Primeiro, pela interrupção do fluxo de capitais nos mercados internacionais, gerando profunda crise de liquidez. Segundo, pela incapacidade dos devedores de pagar suas dívidas.
Em ambos os casos, foi o governo que salvou o sistema. O Tesouro repassou, via Banco do México, parte dos recursos obtidos de empréstimo do governo americano e do FMI, permitindo que os bancos mexicanos pudessem honrar seus títulos emitidos no exterior.
Em relação aos créditos, evitou-se a crise de solvência pela estatização de parte importante das carteiras dos bancos.
De um total de empréstimos de US$ 130 bilhões, cerca de US$ 30 bilhões deverão receber suporte do Tesouro mexicano via mecanismos muito parecidos com o FCVS usado no Brasil em 84 nos empréstimos da casa própria.
Uma lição para o Brasil, que deriva da experiência mexicana, é a importância da existência de um agente privado de seguros dos depósitos bancários.
O Fobaproa (fundo para proteção dos depósitos bancários) foi um instrumento ágil e eficiente para estabilizar o sistema bancário e cobrar dos controladores pelo menos parte do custo do ajuste.
A consolidação desse processo de salvamento do sistema bancário mexicano depende, entretanto, da estabilização definitiva da economia e da volta do crescimento durante os próximos anos.

Texto Anterior: A lição de Robert Lucas
Próximo Texto: Declaração de IR isentará rendimentos até R$ 8,8 mil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.