São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
Texto Anterior | Índice

Phytoervas prepara ofensiva no varejo

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Decorreram apenas nove anos do sobradinho na Vila Olímpia, na zona sul, onde Cristiana, apoiada por quatro funcionários, iniciou uma produção quase artesanal de xampu batizado Phytoervas à fábrica de 7 mil m2 em Alphaville (27 km a oeste de São Paulo), de cujas linhas saem 6,7 milhões de unidades em 1995.
Depois de inaugurar, em junho passado, a Phábrica, um festejado complexo de lazer e moda erguido ao custo de R$ 1,4 milhão, a empresária vai aplicar mais US$ 700 mil e somar 20 lojas às nove (seis franqueadas) da rede Phitá -o braço de varejo que revende 12 marcas de perfumes importados. Quer mais de uma centena de sua propriedade. ``Franchising é chato", decreta.
Na arquitetura de negócios que Cristiana desenhou, tudo se interliga e se movimenta, sinergicamente, em benefício da Phytoervas.
Na Phábrica -que, em seus 2.300 m2, abriga de academia de ginástica a restaurante e loja de roupas- são promovidos desfiles de estilistas que, amanhã, poderão assinar griffe de perfumes -produzidos pela Phytoervas, naturalmente. Nos quatro eventos realizados foram gastos US$ 500 mil.
Tanto ali quanto nas lojas, alguns dos 90 itens da Phytoervas estão sempre à mão de consumidoras da classe AB, dividindo as prateleiras com marcas célebres como Givenchy, Gaultier e Christian Dior. É fácil calcular os ganhos resultantes dessa associação.
``Das marcas emergentes dessa categoria, Phytoervas é a que está hoje melhor posicionada na mente do consumidor", diz Fátima Belo, diretora da agência Young & Rubicam, que coordenou uma pesquisa de avaliação de marcas.
``Faço parte daqueles 5% de empreendedores que deram certo", diz Cristiana, ao revelar que o faturamento vai saltar de US$ 18 milhões em 1994 para 30 milhões neste ano. Desse total, um terço provém das importações.
A Phytoervas investe neste ano US$ 2 milhões em publicidade, sem contar o espaço gratuito na mídia, graças às atividades de promoter de moda de sua proprietária.

Na contramão
Enquanto concorrentes como Natura e Boticário adotaram estratégias de porta-a-porta e franquias para crescer, Cristiana foi direto ao ponto de venda.
Ela conta que, numa de suas primeiras idas a um magazine, teve de explicar que Phytoervas não era uma nova marca de chá. Há três anos, depois de conquistar cadeias como Mappin e Lojas Americanas, os produtos chegaram aos supermercados.
Nesse movimento de expansão, ela teve a precaução de selecionar lojas localizadas em bairros nobres, para que a massificação não acabasse por afetar o posicionamento ``premium" (faixa mais alta de preço).
Some-se farmácias, onde a marca detém, segundo a Nielsen, participação de 1,4% das vendas nacionais, seus produtos estão em 10 mil estabelecimentos.
``O simples fato de aparecer em nossos levantamentos já é um tento, pois existem mais de 200 marcas de xampus no país", diz Sidney Manzione, gerente do instituto.
Segundo o presidente de uma multinacional do setor, que prefere não ser identificado, empresas como a Phytoervas puderam prosperar porque, na década passada, as gigantes dos cosméticos pouco investiram no país.
``Senti que havia uma brecha porque faltavam produtos naturais em farmácias e mercearias", afirma Cristiana.
Mas, se a estabilidade econômica perdurar por mais dois anos, prevê o empresário, o poder imbatível das líderes, em termos de tecnologia e distribuição, vai limitar pequenas e médias nacionais à condição de empresas de nicho.
Como não tenciona passar a indústria para a frente, nem abrir o capital, Cristiana tem pressa. Espartana, trabalha 12 horas por dia e controla, pessoalmente, contas e pagamentos.
Em seu credo pontifica a disposição de não se endividar junto a bancos (``se tiver de pagar juros, fecho o negócio", diz). Envolve-se em tudo, da embalagem ao preço e canais de distribuição. Mas ouve bastante antes de decidir. Trabalha com cronogramas rígidos.
À frente de uma equipe de 25 gerentes, planeja, de janeiro a julho, os 15 lançamentos do ano seguinte. As metas são checadas a cada mês. Ela delega e cobra. Inovação é a veia estratégica mais sensível nesse ramo. Tem uma carteira de 3.400 clientes fiéis, que, trimestralmente, fazem encomendas.
Impôs na empresa um sistema de férias coletivas: dez dias no reveillon, outros dez no Carnaval -e o restante cada funcionário escolhe quando vai gozar.

Lucro é segredo
``Tudo é feito cientificamente, no molde das multinacionais. Nenhum produto é lançado sem estudos prévios de preços, vendas e promoções ligados ao capital de giro", afirma o economista Alberto Tamer Filho, que ela aponta como ``guru". ``O trunfo de Cristiana é ser suficientemente organizada para amarrar aspectos financeiros ao marketing."
A empresária faz segredo da margem de comercialização. ``Isso eu não conto", protesta. Tamer diz que os preços estão alinhados com os do topo das linhas de concorrentes, como Johnson & Johnson e L'Oréal. ``Podem flutuar, em média, 20%."
Fluente em inglês, francês e italiano, o que lhe facilita contatos internacionais, a empresária participará na próxima semana, em Cannes (sul da França), da maior feira mundial de fornecedores de ``duty free".
As exportações da Phytoervas -para Itália e Portugal- representam apenas 3% do faturamento. Mas tudo indica que vão crescer. Uma partida de sabonete glicerinado está sendo acertada para Miami (sul dos EUA).
Também estão sendo negociados contratos com Japão e países do Mercosul. Já os rumores de que representará a rede inglesa Body Shop no país, nega de pés juntos.
Tropeços? Cristiana só admite dois: ter empregado amigos (``me arrependi amargamente") e transferido a indústria de São Paulo para Alphaville, cinco anos atrás. ``É muito longe, e o trânsito atrapalha. Penso em voltar para a capital."

Texto Anterior: Economistas criticam privatização mexicana
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.