São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Economistas criticam privatização mexicana

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

O amplo processo de privatização efetuado pelo México nos últimos anos não se reverteu em melhoria da qualidade de serviços nem em diminuição do custo de vida para a população.
A análise é do ex-deputado federal e economista Jorge Calderón, secretário da Comissão de Orçamento do Congresso até 94.
Calderón cita o aumento real de 15% nas tarifas telefônicas após a privatização da Telmex (Teléfonos de México) e o fraco movimento das estradas privadas, devido aos caros pedágios, como dois exemplos da falta de virtudes da abertura para o cidadão comum.
``Pode ter sido bom para o governo, que arrecadou cerca de US$ 25 bilhões, mas não trouxe benefícios à população", disse.

Mexicana
A Companhia Mexicana de Aviação (CMA), privatizada em 1989, registrou queda de 32,5% em suas receitas e aumento superior a 1.000% em seus prejuízos nos últimos quatro anos.
Durante os seis anos como empresa privada, a companhia já teve seis presidentes e sua frota caiu de 75 aviões em 91 para 48 hoje.
``Tanto o processo de abertura como a gestão privada foram péssimos", avalia Calderón.
Em 89, a privatização da CMA previa uma injeção imediata de US$ 140 milhões por parte dos novos proprietários e um investimento adicional de US$ 3 bilhões nos dez anos seguintes.
As metas não se cumpriram e, hoje, a companhia fundada em 1921 acumula uma dívida ao redor de US$ 1,6 bilhão.
Nos últimos cinco anos, a empresa despediu mais de 6.000 funcionários (45% do quadro), o que não significa aumento de produtividade, pois os resultados financeiros caíram em igual proporção.
Segundo classificação da publicação especializada ``Airline Business", a Mexicana registrou em 94 o maior prejuízo operacional das 120 linhas aéreas analisadas.
A companhia se defende, argumentando que se trata de uma crise mundial do setor.

Corrupção
Entre 88 e 94, durante o governo Carlos Salinas, o Estado se desfez de 421 empresas, arrecadando US$ 21 bilhões.
Calderón, que na época desempenhava função chave no Congresso mexicano, afirma que parte desse dinheiro desapareceu na malha da burocracia mexicana.
Segundo ele, os partidos de oposição pediram várias vezes auditoria externa para verificar se a verba foi, de fato, utilizada no pagamento da dívida interna, como diz o governo. Porém o Congresso, de maioria absoluta governista, nunca aprovou nenhum pedido de auditoria independente.

Pobreza
O número de mexicanos em situação de pobreza aumentou 51% nos últimos 15 anos, informa recente estudo do Banco Mundial.
Hoje, 35% da população do país (31 milhões de pessoas) vive abaixo da linha de pobreza e 16 milhões subsistem em condições de miséria, diz o estudo.
Para muitos economistas, não resta dúvida de que o modelo ``extremamente neoliberal", adotado pelo México, desde o início da década de 80, é o responsável pelo empobrecimento do país.
``As privatizações são apenas a ponta do iceberg de um sistema injusto e doloso para a maior parte da população", afirma Calderón.
O economista do Banco Mundial no México, Joost Draaisma, discorda das criticas ao processo de privatização no país. ``O enxugamento do Estado foi um processo muito benéfico para o crescimento econômico".

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