São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Futuro do FMI continua em aberto

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na semana passada, aconteceu mais uma reunião anual do FMI e do Banco Mundial, desta vez em Washington. Ao mesmo tempo, há muitas dúvidas sobre o futuro do fundo e mesmo sobre o papel que as organizações multilaterais poderão desempenhar em outros episódios de abalo financeiro nos mercados emergentes.
Para que a ação do FMI possa fazer alguma diferença, seria preciso pelo menos duplicar os recursos à sua disposição. Proeza que não se vislumbra no curto prazo, pois o maior contribuinte, o governo dos EUA, entra agora em ritmo de campanha eleitoral presidencial, sob forte pressão da oposição republicana.
O debate filosófico chegou na semana passada às páginas do "Wall Street Journal.
Lawrence H. Summers, secretário do Tesouro dos EUA, numa espécie de libelo anti-Fukuyama, condena numa penada todos os que acreditam na auto-suficiência dos mercados para a promoção do desenvolvimento econômico.
A razão dessa celeuma é o debate sobre orçamento no Congresso dos EUA. O governo Clinton, do qual Summers é fiel escudeiro, saiu a campo para enfrentar os republicanos. A defesa do orçamento para as instituições multilaterais ficou a cargo do secretário do Tesouro.
Nas suas palavras, "com o fim da Guerra Fria, o triunfo da democracia com base na economia de mercado ficou mais do que nunca ao nosso alcance. Mas, alerta, justo quando a vitória está tão próxima, os mais precipitados querem dar a guerra por vencida.
No mercado financeiro internacional, esse tipo de pensamento assume a forma dos discursos que apontam para os mercados como capazes de, por si mesmos, espraiar a democracia, ancorar a estabilidade estratégica e levar sociedades frágeis, em regiões sensíveis, à prosperidade.
Mas o secretário do Tesouro dos EUA não prega de mãos vazias. Ele insiste no fato de que, por meio de programas de ajuste financiados por esses organismos, somente esses mercados reformados foram responsáveis por um aumento anual de 11,8% nas exportações norte-americanas entre 1981 e 1993, criando 850 mil empregos nos Estados Unidos. Nesse período, países como México, Polônia, Argentina e Índia receberam US$ 35 bilhões em empréstimos do Banco Mundial.
Mas isso não é tudo. A partir de contratos firmados por meio do Banco Mundial, empresas americanas venderam mais de US$ 20 bilhões. Um tema importante e que vem sendo considerado prioridade até pelos órgãos de informação dos EUA. Partes de um relatório preparado por organismos como a CIA, divulgado também na semana passada, mostram como empresas dos EUA vêm perdendo contratos ao redor do mundo por causa de corrupção.
A CIA encontra, assim, uma nova função pós-guerra fria, que vai prosperar apenas na medida em que mais reformas liberalizantes diminuam a corrupção, ao diminuir o tamanho e a influência dos Estados nacionais nas respectivas economias.
No mesmo dia, na mesma página do "Wall Street Journal, Jude Wanniski, presidente da Polyconomics, bota o dedo na ferida e conta o outro lado da história. Lembra, por exemplo, dos "conselhos dados pelo FMI a um país que então se chamava Iugoslávia, em 1987.
Os teóricos do fundo recomendavam então o mesmo tipo de terapia que seria depois vendida aos russos, a terapia de choque, que começou com uma desvalorização do dinar.
Em 1989, já mergulhadas na recessão provocada pela terapia de choque, as duas regiões mais ricas da Iugoslávia, a Croácia e a Eslovênia, partiram para a secessão, com a ajuda da Alemanha. O resto, como diz Jude Wanniski, é história sangrenta.
O passado e o futuro do FMI, portanto, não são polêmica apenas entre os economistas dos países emergentes. No Primeiro Mundo também há dúvidas fundamentais sobre a real capacidade de os burocratas globais entenderem o que se passa ao seu redor.

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