São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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A venda de Juninho e a descoberta de jovens valores

TELÊ SANTANA

A venda de Juninho para a Inglaterra demonstra, mais uma vez, que o trabalho de um treinador não se resume a preparar uma equipe para ganhar títulos.
Acredito que Juninho continuaria até hoje no Ituano se nós, do São Paulo, não tivéssemos observado o seu futebol e acreditado nele. Ninguém contrataria um jogador baixo e mirrado como ele.
A observação de um treinador ou de um supervisor nas categorias menores de seu clube e em outros pontos do país é fundamental para a descoberta de novos e promissores talentos.
Para isso, deve haver uma integração entre os treinadores de todas as categorias do clube e, se possível, uma rede de informantes, amigos ou ex-companheiros, por todo o país.
Após a contratação dessas promessas, a tarefa do treinador passa a ser burilar o atleta, corrigir as suas deficiências.
Em pouco tempo, as oportunidades surgirão para ele e as propostas milionárias do exterior, também.
E, quando chega esse momento, a saída do jogador se torna inevitável. O atleta pressiona e a diretoria do clube negocia, mesmo que tenha condições de mantê-lo no país.
No futebol brasileiro, esse é o ciclo normal. O São Paulo, por exemplo, mais vende do que compra.
Mas eu me sinto feliz quando um jogador, revelado por mim, consegue uma boa transferência para o exterior. Sei que dei, de certa forma, a minha contribuição.
Nesses cinco anos de São Paulo, muitos seguiram o exemplo de Juninho, como Raí, Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão, entre outros.
Sei também que vai haver um jogador preparado para substituir aquele que está saindo.
O clube lucra muito em todo o processo. Compra um jogador, ainda inexpressivo, por pouco dinheiro e, depois, negocia o atleta por somas astronômicas.
Além disso, para os clubes brasileiros, é muito mais seguro investir pouco em uma promessa do que gastar dinheiro em medalhões, que, muitas vezes, não resolvem o problema da equipe.
Hoje, o São Paulo é formado, basicamente, por jogadores formados nas suas categorias inferiores: Rogério, Pavão, Gilmar, André, Mona, Caio, Denílson, Lino, Douglas... Todos eles começaram no próprio São Paulo.
Outros, como Alexandre, Luciano e Roni foram contratados de outros clubes, com base nas observações que fizemos.
Esse é o caminho.

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