São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Olimpíada tumultua a vida em Atlanta

BEN BROWN
DO "USA TODAY"

As ruas estão um desastre. O tráfego está infernal. Os aluguéis estão subindo. E metade das pessoas que achavam que iriam assistir de camarote ao maior evento em tempos de paz da história da humanidade descobriu recentemente que foi tapeada por um computador.
``São tempos difíceis", disse Dick Yarbrough, relações-públicas do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Atlanta.
``Quando começamos, pessoas que já haviam passado por essa experiência explicaram que você se sente eufórico quando anuncia que vai realizar os Jogos. E você fica eufórico quando os Jogos começam. Mas, no meio disso, há um grande depressão, sobre o qual você não pode fazer nada", disse.
As visões dessa depressão são:
Calçadas sendo alargadas para acomodar melhor o fluxo de pedestres durante os Jogos, ruas sendo repavimentadas, pontes e viadutos sendo restaurados, árvores sendo plantadas, todo o centro da cidade parado por obras. Tudo a um custo de US$ 2 bilhões.
Todo esse trabalho resulta em desvios e atrasos para a população de Atlanta (sudeste dos EUA).
``Isso lembra muito o tempo de escola, quando você espera até o último minuto para estudar antes de uma prova", disse o advogado Rick Asbill, que mora no subúrbio e trabalha no centro.
``Se isso é um aperitivo do que será a Olimpíada, começo a pensar em alugar uma casa em outro lugar e me mudar temporariamente", disse.
``Estou ficando um pouco maluca com isso", admitiu Sandra Jennings, que dirige o planejamento de tráfego da cidade.
Segundo ela, hoje há 40% mais ligações de motoristas desorientados, pedindo informações.
``A maioria das pessoas compreende a razão de tudo isso. Eles só querem saber como se locomover na cidade", disse.
Más notícias, porém. Segundo ela, ``a situação ainda vai piorar um pouco, antes de melhorar".
Com a maior parte dos leitos em hotéis já reservados para o período da Olimpíada, os organizadores estão contando com a acomodação em casas particulares.
Isso gerou uma moda fique-rico-da-noite-para-o-dia, com o preço dos aluguéis disparando no mercado imobiliário.
Os proprietários estão descobrindo nos contratos de locação cláusulas que permitem exigir que o locatário desocupe a casa no período dos Jogos.
``Eu estava pensando em deixar a cidade. Essa situação só apressou a decisão", lamentou o consultor de informática John Obermeier.
Quando ele foi avisado de que deveria deixar a casa onde morava, e pela qual pagava US$ 1.400,00 por mês, não conseguiu encontrar nada para alugar por esse valor. ``Eu normalmente aprecio a Olimpíada, mas esse processo acabou se tornando mercenário demais", disse.
Muitos habitantes da cidade, que não tinham ainda sentido o choque olímpico, receberam a sua dose há duas semanas, quando abriram os envelopes com a confirmação de ingressos.
Para dar a todos um acesso justo a bilhetes para competições populares, como natação e ginástica, o Comitê Organizador promoveu um sorteio por computador.
Como muitos solicitaram a mesma cadeira no ginásio, poucos acabaram recebendo o lugar que desejavam. Os habitantes de Atlanta achavam que teriam um tratamento preferencial, por hospedarem os Jogos. Isso não aconteceu e frustrou muita gente.
A maioria da população ainda defende, porém, a realização da Olimpíada na cidade.
Segundo a última pesquisa da Universidade da Geórgia, 76% dos entrevistados apóiam os Jogos. Três anos atrás, porém, 90% da população da cidade era a favor.

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