São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Mercado volta a crescer

ROBERTO CAPUANO

São promissoras as perspectivas para o mercado imobiliário, que atravessou um longo período de incertezas entremeado por alguns bons momentos.
Desde o predatório governo Collor, que praticamente destroçou o mercado com o confisco das aplicações financeiras, o setor imobiliário luta para se recuperar.
Na ocasião, sendo, como ainda é, um mercado altamente elitizado, a retirada de uma só vez dos recursos dos compradores potenciais causou sua paralisação instantânea.
Gradativamente, começaram a voltar os compradores, sempre indecisos entre a atração das aplicações financeiras e o atávico desejo da propriedade.
O primeiro segmento a se aquecer de verdade foi o de imóveis compactos financiados. Esse segmento se beneficiou da alta dos aluguéis, progressiva e inexorável, que assustou a maioria dos inquilinos e os remeteu em multidões aos plantões de venda.
Com a chegada do Plano Real, depois de um conflito que durou pelo menos 60 dias, em que os compradores queriam pagar o preço em dólares (acostumados que estavam com esse indexador há 20 anos), e os vendedores queriam receber em reais (o que acabaram conseguindo), o mercado de usados começou a crescer.
A comercialização atingiu primeiro os imóveis menores, depois os de porte médio, até atingir uma boa parte dos imóveis destinados à classe média alta.
Um ciclo que foi interrompido pelas taxas de juros surrealistas implantadas pelo atual governo, que fizeram com que os compradores adiassem suas aquisições.
Essa desaceleração consolidou-se e agravou-se com o alarde que foi feito pelas construtoras devido à proibição da cobrança do resíduo.
Na ânsia de comover as autoridades, as construtoras tentaram vender a elas uma crise muito maior do que a real. Na verdade, apenas um segmento, não superior a 20% da indústria da construção civil, foi afetado pela medida.
Retiraram os imóveis de venda e anunciaram que as vendas haviam parado, acenaram com o desemprego em massa. Fizeram um escarcéu incrível.
Se não foram totalmente bem-sucedidos junto às autoridades, tiveram enorme êxito na tarefa de passar para os consumidores a imagem de uma gigantesca crise.
Setores que nada tinham a ver com o problema, como os de imóveis rurais, de lazer, terrenos e imóveis usados, acabaram sendo prejudicados por essa atitude.
Mas, apesar de tudo isso, o mercado começa neste mês a mostrar sinais de reaquecimento.
A redução da rentabilidade das aplicações financeiras, em contraponto com uma cultura inflacionária, começa a fazer o consumidor voltar a pensar seriamente no bom e velho investimento imobiliário como a melhor alternativa para investir o seu dinheiro.
A confiança no Plano Real começa a dilatar o prazo de pagamento dos imóveis usados. E já há os primeiros sinais de investidores em locação residencial, que, sem dúvida nenhuma, é hoje um excelente negócio.
São boas as perspectivas, tanto para os imóveis novos como para os usados. Esse reaquecimento deverá atingir também os imóveis de lazer, sempre os mais prejudicados em qualquer redução de operações.
Há ainda o aceno de novos financiamentos. Há a recém-lançada caderneta de poupança vinculada, surgiram os pequenos créditos ao consumidor, vêm aí os recursos externos -inexplicavelmente excluindo os imóveis usados. Enfim, há muita coisa boa para acontecer.

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