São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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A era da globalização

<UN->CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA

É preciso reduzir o 'custo Brasil' para que nossa presença no mercado mundial se expanda
CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA
Inserir definitivamente a indústria brasileira na economia internacional é uma das principais metas da diretoria da Fiesp/Ciesp. Iniciamos nossa segunda gestão com os olhos voltados para o futuro dos mercados globalizados e para a exigência de uma atuação das representações empresariais que ultrapasse os limites das fronteiras nacionais.
Caminhar em tal direção exige que o nosso empresariado lute sem tréguas contra os entraves burocráticos e excessos de regras oficiais que engessam nossas possibilidades de crescimento econômico. Para nós está claro que a indústria brasileira é eficiente e competitiva. Basta lembrar que desde a implantação do Plano Real nossos preços industriais subiram menos da metade do Índice Geral de Preços. Isso, ao mesmo tempo em que enfrentávamos a dura concorrência estrangeira não só no mercado externo, mas também no mercado doméstico. Foi aí que a indústria descobriu o peso do ``custo Brasil".
Baixar esse custo é condição preliminar para o sucesso da nossa inserção internacional. Mas não podemos correr o risco de esperar com os braços cruzados que o governo faça isso sozinho. Seria ingenuidade supor que o Estado que gerou o ``custo Brasil" tenha condições de eliminá-lo por conta própria. Cabe nesse contexto ao empresariado uma participação pró-ativa na superação dessa dificuldade essencial para expandir significativamente nossa presença no mercado mundial.
Enquanto trabalhamos no plano interno para eliminar o ``custo Brasil", não devemos ficar na cômoda posição de espera em relação ao resto do mundo. Vamos partir para a ofensiva. No momento em que se inicia a consolidação da união aduaneira no âmbito do Mercosul e um que se vislumbram futuras parcerias com blocos regionais ou continentais, como o Nafta e a Comunidade Européia, a ação da Fiesp/Ciesp deve se voltar obrigatoriamente para a abertura de espaços que beneficiem a indústria paulista e brasileira no campo da competição econômica internacional.
A globalização da economia é uma estrada de duas mãos. Evidentemente, a indústria brasileira ganhará mais competitividade quanto mais enfrentar os desafios e exigências dos mercados mais evoluídos. Já estamos sem dúvida no bom caminho. Chegam quase a mil as indústrias brasileiras que detém o Certificado de Qualidade ISO 9.000. O próximo passo é a absorção por nossas unidades industriais do conceito de qualidade ambiental, com o ISO 14.000. São iniciativas que facilitam não só a exportação dos produtos nacionais, mas também a abertura de fábricas brasileiras em outros países. Estamos presentes, por exemplo, nos Estados Unidos, México, Argentina, Itália, Portugal, Espanha e até na China.
No processo de expansão das nossas fronteiras industriais, a Fiesp/Ciesp pretende assumir papel de vanguarda. Vislumbramos no curto prazo nossas entidades voltadas para sua internacionalização, com atuação marcante em todos os fóruns econômicos mundiais, aprofundando relações com representações empresariais de todo o mundo.
Outra tarefa a que nos propomos é a de buscar investimentos no exterior para nossas indústrias, propagando nossas boas oportunidades de negócios e estimulando joint ventures. Vamos provocar e participar de missões de negócios do nosso Estado e brasileiras. Vamos mesmo organizar caravanas de empresários ao exterior. Vamos estimular a participação de governadores, ministros e até do presidente da República nessas incursões para vender nossos produtos.
Trata-se de um esforço patriótico de incentivo das relações comerciais que visa alavancar o crescimento econômico e, por isso mesmo, deve ser compartilhado por todos os brasileiros.
Ao defendermos a inserção internacional da nossa indústria, naturalmente nos colocamos contra as reservas burocráticas de mercado que, na nossa história recente, só beneficiaram o corporativismo, a ineficiência e os parasitas de toda ordem. Em contrapartida, porém, é obrigação das nossas entidades zelar pelo fortalecimento e capacitação competitiva da indústria brasileira. Assim, reafirmamos nossa intenção de enfrentar, como temos enfrentado, qualquer ação de natureza externa que ameace a base industrial do país e de São Paulo. Aceitar e estimular a livre competição internacional não significa fechar os olhos ao dumping predatório. Esse é o nosso compromisso.

CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA, 56, empresário e advogado, é presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

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