São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995 |
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Holandês cria método de administração participativa
NELSON ROCCO
O método sociocrático é um sistema de administração participativa em que os funcionários são organizados em círculos de trabalho. O engenheiro Endenburg implantou a metodologia em sua própria empresa, em 1970. Sua palestra -``Sociocracia - A Tomada de Decisão em Ambiente Empreendedor"- acontece dia 20 de outubro, das 8h30 às 17h, no Hotel Meliá, em São Paulo. O evento é promovido pelo Ideq (Instituto de Educação para a Qualidade) e pelo Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo). Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha, por fax, de seu escritório em Roterdã, na Holanda. Folha - Quais são os fundamentos básicos da sociocracia? Gerard Endenburg - A sociocracia é um método para criar e orientar uma organização. O objetivo é dar a cada integrante da organização o direito de fazer parte dos processos decisórios, numa base de equivalência. O método sociocrático já avançou para além da fase experimental e está sendo usado com sucesso em várias organizações. Ele se baseia em quatro regras fundamentais: as decisões são tomadas por consentimento; há uma hierarquia de círculos, da qual participam todos os integrantes da organização; há uma vinculação dupla entre os círculos; e as pessoas são eleitas por consentimento, após uma discussão aberta. Essas regras, tomadas em conjunto, promovem o processamento de informações, tanto para cima quanto para baixo. Folha - Essas técnicas podem ser adotadas por pequenas empresas? Endenburg - Elas se aplicam a empresas de todos os tamanhos e em todos os setores da economia. Na Holanda, nos EUA, no Canadá e no Brasil existem várias pequenas empresas, com de 20 a 1.300 funcionários, que estão usando o método. Folha - Como se pode transformar um ambiente autocrático em ambiente sociocrático? Endenburg - No momento em que o método sociocrático é adotado numa organização já existente, o ambiente se transforma. Antes do processo ter início, é preciso que a direção da organização apóie abertamente o uso do método sociocrático. O uso poderá ser aplicado à organização inteira, ou apenas a uma parte dela. Depois disso, o primeiro passo é criar uma estrutura para a implementação. Isso significa a criação de uma equipe de projeto que vai administrar a introdução. Essa equipe também vai aconselhar a direção sobre etapas do processo. O segundo passo é a formação de uma estrutura-círculo que se encaixe com a estrutura-organização já existente. Depois disso, grupos-piloto são selecionados para trabalhar com o método. O método é ensinado durante o trabalho e durante os processos. As experiências dos grupos-piloto com a sociocracia determinam a introdução do modelo em outras partes da organização. O terceiro passo é a introdução, de cima para baixo, do método sociocrático em todas as partes da organização. O quarto e último passo é a verificação anual de como o método está funcionando, feita pelo ``contador sociocrático". Folha - Quanto as inovações sociocráticas custam à empresa? Endenburg - Comparadas aos custos normais de reorganização, introdução de programas de qualidade total etc., a introdução do método sociocrático é relativamente barata. A razão disso é o caráter de processo dessa introdução, que significa menos custos de suporte externo. A organização tem de aprender as habilidades e conhecimentos por si só, para que o caráter permanente de mudar a organização se torne mais vital e competitivo. Folha - Como o senhor implantou o método em sua empresa? Quanto tempo durou o processo? Foi difícil? Endenburg - Introduzi a sociocracia em minha empresa sozinho. Levei mais ou menos três anos para fazê-lo. Não foi difícil, porque todo mundo tem a sensação de estar fazendo as coisas de maneira normal. Mas foi e continua sendo difícil mudar os condicionamentos tradicionais dos funcionários e os meus. Folha - Quais são os principais benefícios que a sociocracia traz às empresas? Endenburg - Ela ajuda a criar uma visão clara das metas da organização, que é compartilhada por todos os funcionários. Melhora a coordenação/cooperação entre diferentes departamentos (funcionais) ou unidades empresariais de uma organização, e dá maior capacidade de liderança. O método aumenta o envolvimento dos funcionários, devido à equivalência na tomada de decisões. Eles ficam mais motivados, e os índices de faltas ao trabalho se reduzem. Folha - O grande número de reuniões entre funcionários representa um ponto negativo? Endenburg - Os círculos que criam as políticas fazem cerca de seis reuniões por ano. Numa organização sociocrática, as reuniões, sejam elas da estrutura-círculo ou pela estrutura executiva, tendem a ser muito eficientes. Isso se deve à ausência de conflitos de poder, que frequentemente frustram o processo decisório nas organizações tradicionais. As reuniões dos círculos são necessárias para tomar decisões adequadas e efetivas sobre políticas. Mas, se surgirem oportunidades fantásticas ou mesmo uma crise, podem ser organizadas reuniões diretamente. Ideq - tel. (011) 536-0914. Tradução de Clara Allain. Texto Anterior: Decoração é fundamental Próximo Texto: Como montar um laboratório fotográfico? Índice |
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