São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Instituições aumentam volume de crédito

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

Os bancos brasileiros deixaram de ganhar -após o Plano Real- US$ 13,6 bilhões de receitas que obtinham com a inflação.
Análise da consultoria Austin Asis de 209 balanços de bancos brasileiros mostra que as receitas com a inflação caíram de US$ 14,12 bilhões, em junho de 94, para US$ 515 milhões, em igual período de 95.
Os US$ 13,6 bilhões que os bancos deixaram de ganhar dariam para adquirir uma rede de 6,8 milhões de microcomputadores.
Os ganhos eram obtidos nas chamadas receitas de ``float". Isto é, os bancos aplicavam no mercado financeiro com juros elevados -pela alta inflação antes do Plano Real- o dinheiro que ficava depositado na conta corrente.
A estabilidade nas taxas de inflação provocou melhoria de ganhos reais dos correntistas. Eles aumentaram seus depósitos nos bancos analisados de US$ 187,898 bilhões, em junho de 94, para US$ 202,733 bilhões, em junho de 95.
A partir de julho de 94, com o início do Real, o ganho com a inflação foi se reduzindo e os bancos procuraram outras maneiras de ganhar dinheiro, diz Erivelto Rodrigues, diretor da Austin Asis.
O consultor diz que os bancos partiram, por exemplo, para a prática de spreads (diferença entre a taxa de remuneração para quem aplica no mercado financeiro e o juro pago pelo tomador de empréstimos) elevados.
Essa diferença chega, no momento, a um percentual recorde de 100%. Em junho de 94, a diferença era de 35%, diz o consultor.
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Maurício Schulman, afirma que os juros são altos por causa dos elevados impostos incidentes sobre a atividade bancária; das altas taxas pagas nos títulos públicos; e dos recolhimentos compulsórios (obrigatórios) de dinheiro no BC (Banco Central).
Schulman diz que ``os bons resultados da política de estabilização vêm permitindo aos responsáveis pela política econômica a promoção de uma gradativa descompressão dos mecanismos de restrição ao crédito e a redução das taxas de juros".

Prejuízos
A redução nos ganhos com a inflação teve impacto expressivo na contabilidade dos bancos, principalmente na dos oficiais.
A amostra de 209 balanços de bancos do primeiro semestre de 95 demonstra que o saldo do sistema financeiro foi um prejuízo (perda) de US$ 439 milhões.
O resultado acumulado foi influenciado pelo prejuízo de US$ 2,6 bilhões no primeiro semestre de 95, obtido pelo Banco do Brasil (BB). No primeiro semestre de 94, os 209 bancos analisados lucraram US$ 2,6 bilhões.
Mesmo ao se eliminar da análise os resultados do BB, houve queda nos lucros dos bancos de US$ 2,389 bilhões, no primeiro semestre de 94, para US$ 2,208 bilhões, no mesmo período de 95.
Os bancos tentaram contornar as perdas com o aumento de 5,6% nas operações de crédito na mesma época. Os resultados foram desastrosos, pois, com os altos juros praticados nos empréstimos, a inadimplência (atraso nos pagamentos) foi recorde.
Os créditos em atraso e em liquidação passaram de US$ 2,18 bilhões, em junho de 94, para US$ 5,26 bilhões, em junho de 95, com alta de 141%.
Ricardo Fleury Lacerda, especialista em mercado financeiro da Universidade de Columbia (Nova York), diz que o novo desafio dos bancos brasileiros é aumentar a carteira de empréstimos, evitando as empresas inadimplentes.
Para isso, terão de aprimorar a análise de crédito, já que durante anos foram desacostumados a conceder empréstimos, diz ele.
Armando Fernandes Júnior, vice-presidente do Bradesco, diz que os bancos estão cada vez mais seletivos na concessão de empréstimos. Segundo ele, a inadimplência começou a ser estancada a partir da segunda semana de setembro.

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