São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Grand Prix

FRANCESC PETIT

Na discussão em torno do polêmico assunto propaganda ``light", ou jovem, presumidamente jovem, chamada também de criativa, moderna ou moderninha... e por aí vai, o que de fato existe é muita desinformação, muito oportunismo e muito chute; sem querer entrar no mérito da questão, pois já é bem conhecida a minha opinião.
Assim, em vez de ficar criticando este ou aquele, a agência tal ou a outra, gostaria de lembrar a alguns empresários do mundo da propaganda que toda essa confusão atual é mero produto de infantilidade, criancice mesmo, falta de janela, falta de quilometragem, falta de ler, falta de estudar, falta de pensar e de querer aprender.
Não quero dizer que o publicitário obrigatoriamente tenha de ser um intelectual, candidato a prêmio Nobel, porém deve ter uma cultura suficientemente rica para criar, para adaptar e para transformar idéias e pensamentos, sem necessidade de cometer erros e grosserias.
Devo lembrar que, por trás da maioria dos publicitários famosos, existem homens cultos e educados, poetas, escritores, intelectuais, colecionadores, filósofos, pintores, músicos, que aportam à propaganda seus conhecimentos e engrandecem a profissão. Ninguém duvida que a grande geração de publicitários brasileiros surgiu nos anos 70, tanto na criação quanto em outros setores. Igualmente, surgiram as mais importantes agências e empresários da história da propaganda brasileira.
Porém, os mais jovens, inexperientes, com ambições desmedidas e paletós de ombreiras exageradas, se dedicam há tempo a uma campanha incessante contra os profissionais maiores de 40 anos, só porque têm alguns sinais normais da idade, assim como cabelos esbranquiçados ou cabelos ralos, até carequinhas lustrosas...
Essa turma de novatos tripudia e difama gente que merece todo o respeito e admiração, com sinônimos depreciativos, de velhos, aposentados, gagás, ultrapassados e muitas idiotices mais.
O pior é que muitos empresários da propaganda chegam a se impressionar com as ombreiras dessa turminha que propiciou o caos e a quebra da ética publicitária, pisoteou a lei que regulamenta a atividade, desmoralizou os festivais e a imagem da propaganda brasileira, tudo fruto do amadorismo.
Acho que muitas agências que caíram nessa armadilha e que pagam salários astronômicos, superiores aos pagos em Nova York ou Londres a verdadeiros cobras da profissão, ficam sem dormir porque acabam percebendo que estão pagando muito por muito pouco.
Alguns desses ombreiras que se vendem como redatores nem português sabem corretamente; criam títulos ilegíveis e textos absolutamente inócuos, que não passariam em exame de curso secundário.
Pior ainda os pseudos diretores de arte, que nem conhecem o endereço de uma escola de arte e, se tirados os anuários da mesa deles, ficam tetraplégicos da criação, ocupando espaços que não merecem nas agências onde trabalham e muito menos na mídia. O que está faltando às agências é equilibrar agressividade jovem com experiência dos veteranos.
É o mesmo que está acontecendo na Fórmula 1: um monte de garotos fazendo besteiras e brigando entre si, destruindo esta maravilha que é a Fórmula 1. Seria muito melhor para Michael Schumacher, Jean Alesi, Rubens Barrichello correrem juntos a Nélson Piquet, a Alain Prost, a Nigel Mansell, que são os sábios, os mágicos desse esporte da velocidade.
É esse o tipo de competição que as modernas agências devem montar, alguns rapazes da Fórmula 3, saídos da escola de pilotagem e de outras categorias ascendentes, jovens gênios da Fórmula 1 misturados com algum Jack Ikx ou com o sempre jovem Emerson Fittipaldi, que sabem tudo, e até os mais atrevidos, que ainda correm nas famosas corridas como o Grand Prix de Le Mans e Neubuering, a 300 quilômetros por hora, pilotando os mais modernos Porsche, McLaren e Ferrari e já ultrapassam os 50 anos.
Acho que já está na hora de parar com derrapagens na pista e acertar o anúncio na prancheta, ou então na sua plena juventude, ainda dá tempo de voltar para a escola e completar o curso...

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