São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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A maratona

CIDA SANTOS

Você sabe o que é jogar 11 partidas em 15 dias e nesse período ainda ter que mudar de cidade seis vezes? A Copa do Mundo do Japão, que será disputada em novembro, é o torneio que melhor representa a maratona que se tornou o vôlei mundial. Uma competição atrás da outra e excessos de viagens. Resultado: nunca se viu tantas contusões quanto nos últimos anos.
Desde a criação da Liga Mundial Masculina, em 90, e do Grand Prix Feminino, em 93, o vôlei vive um dilema. Os dois torneios, disputados todo ano entre as principais seleções, quebraram fronteiras, proporcionaram avanços técnicos e popularizaram o esporte. Mas trouxeram problemas: congestionaram o calendário. Em paralelo com o futebol, seria como ter uma Copa do Mundo todo ano.
Vamos às contas: a seleção brasileira feminina já disputou três torneios nesta temporada. Entre eles, o Grand Prix, que foi um verdadeiro samba do avião. Foram cinco finais de semana, com um total de 15 jogos, em Belo Horizonte, e mais cinco cidades asiáticas. Detalhe: na Ásia, jogaram em três países diferentes.
O técnico da Rússia, Nicolai Karpol, definiu bem o calendário. Disse que é feito para astronauta e não para atleta. Que o diga o técnico Bernardinho. Em 95, ainda não conseguiu jogar com o time titular. Três jogadoras já foram operadas este ano: Ana Moser, Virna e Ana Flávia. Agora, a seleção corre o risco de ir à Copa do Mundo sem Ana Flávia e Ana Paula.
No masculino, a situação não é diferente. Os novos contundidos são Paulão e Reinaldo. Técnicos como o do Brasil, EUA e Itália já se reuniram com o presidente da Federação Internacional em busca de soluções. A proposta é que os torneios de seleção sejam apenas no segundo semestre, por cerca de quatro meses. A resposta: mudanças só depois da Olimpíada de 96.
Os patrocinadores dos times brasileiros também estão protestando. Os clubes ficam menos de cinco meses com os atletas e pagam os salários durante o resto do ano, quando eles estão na seleção. A exceção são os seis titulares do time campeão olímpico, que são patrocinados pelo Banco do Brasil.
Os clubes estão indo à luta: já falam em criar uma associação para terem mais poder na decisão do calendário oficial. Uma boa nova no mundo do vôlei guiado nestas terras sempre pela mão forte da Confederação Brasileira. Agora resta aos atletas se unirem e também lutarem por seus direitos.

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