São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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TOTALMENTE PUNK

JONATHAN GOLD
DA ``SPIN"

Por trás dos topetes estilo moicano fluorescentes, das gigantescas tatuagens e das camisetas fedidas do Rancid existem quatro caras que farão qualquer coisa um pelo outro e pelo punk.
O Rancid é formado por Lars Frederiksen, 23 (guitarra), Brett Reed, 23 (bateria), Tim Armstrong, 29 (vocais) e Matt Freeman, 29 (baixo).
A banda segue o espírito punk de 1977, fazendo música Oi! (corrente do punk preferida pelos skinheads, que tem os Garotos Podres como principal representante no Brasil). Em suas músicas predominam as guitarras distorcidas e acordes simples.
Frederiksen é visível a um quilômetro de distância por causa de seu topete moicano laranja. Ele diz que o punk rock é seu grupo étnico, sua cultura, sua inclinação sexual, algo que ele não pode controlar.
``O punk rock é a minha raça, cara", diz ele, levantando a camiseta e revelando seu corpo extravagantemente tatuado. ``É a cor da minha pele."
Frederiksen pode não ser a alma do Rancid -Armstrong, outro moicano, faz esse papel-, mas é a consciência do grupo, o mais punk entre os punks.
Frederiksen mostra sua coleção de discos -apenas álbuns em vinil, é lógico-, caixas e caixas de Exploited, Sham 69 e Blitz, todos arrumados em ordem alfabética e protegidos por grossos sacos plásticos. Mais surpreendente é a quantidade de discos de reggae e ska.
Pergunto se ele tem algum disco do Skrewdriver, banda skinhead inglesa ultra-racista. ``Tenho e vou explicar por que. Um amigo queria se desfazer do disco. Mas, se vendesse, algum idiota o compraria. Então, tirei o disco das mãos dele e de circulação. Acredito na filosofia de conhecer bem seu inimigo."
No momento, a banda está meio parada: o terceiro álbum, ``...And Out Come the Wolves", da gravadora Epitaph, está pronto para a distribuição; a turnê ainda demora alguns meses para começar e o vídeo só será gravado daqui a algumas semanas.
A música do Rancid lembra o punk rock inglês do final dos anos 70, e a maioria das faixas do novo álbum poderia se encaixar perfeitamente em um programa de John Peel -radialista que divulgou o punk e a new wave na Inglaterra- em 1978.
Mas o thrash californiano dos anos 90 não é o punk inglês dos 70 e é essa a comparação que mais irrita o Rancid.
``O Clash era uma grande banda. Mas nós criamos nosso próprio estilo. Por um lado, não temos ninguém cantando tão alto e, por outro, fizemos dois discos de puro thrash californiano. Nós crescemos ouvindo Bad Religion e não música soul e rock de bares ingleses, ou qualquer outra coisa que tenha inspirado o Joe Strummer", explica Armstrong.
``O Clash surgiu em um determinado período histórico, e o Green Day, o Rancid e o Offspring surgiram em outro. E as pessoas que acreditam que estamos apemas copiando as coisas antigas sãs as mesmas que estão por aí dirigindo BMWs com adesivos de anarquia no pára-choque", diz Frederiksen.

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