São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Teatro germânico estréia no Brasil pelo Sul

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

As produções são baratas e a pretensão, modesta. Mas Porto Alegre está se convertendo em pólo difusor da dramaturgia em língua alemã no Brasil. Estreou no sábado, na capital gaúcha, a peça ``New York, New York", da austríaca Marlene Streruwitz.
A obra, sucesso na Alemanha e Áustria em 1992, foi traduzida para o português e fica em cartaz até dezembro no teatro Renascença, com um elenco de sete atores dirigidos por Miriam Amaral, 32.
``Nossas produções são quase amadoras, mas parte do público daqui comparece porque descende de alemães e tem curiosidade de assistir a espetáculos que mostrem a produção européia contemporânea", diz a diretora gaúcha.
Miriam tem-se dedicado a transportar para o Brasil peças representativas do teatro contemporâneo em língua alemã. É sua sétima produção em sete anos de carreira. Obtém patrocínio de instituições culturais, como Instituto Goethe e a embaixada da Áustria.
Já montou nesse esquema ``Hamletmachine" e ``Descrição de uma Imagem", do berlinense Heiner Mueller, respectivamente em 1989 e 1993.
Em 1991, inaugurou no Brasil o austríaco Thomas Bernhard, com ``Claus Peymann Compra uma Calça e Vem Jantar Comigo". No último ano trouxe o não menos ácido e austríaco Peter Turrini, com `Àlpes em Chamas".
Marlene Streeruwitz é outra autora inédita em território nacional. Com 45 anos, é a última ``enfant terrible" da dramaturgia vienense -linhagem que se caracteriza por pintar a sociedade local com tons pouco encomiásticos.
``New York, New York" causou espécie pelo tema polêmico. A ação se passa num banheiro masculino público em certa estação de metrô vienense. Toma conta do estabelecimento a sra. Horwath, a quem a autora apelidou de ``Mãe Coragem da privada".
Comporta-se como uma entidade sobrenatural. Toma conta de um Prometeu ensanguentado, ao mesmo tempo que guarda a chave do ``mitório e cagatório real e imperial". Tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural, o lugar não tem água nem sistema hidráulico. Goteiras e infiltrações tornam o ambiente insuportável.
Os tipos se sucedem, de turistas japoneses -à cata da cor local para fotografar- a prostitutas, além de um acadêmico cuja missão é destruir o banheiro porque este representa o passado. ``O banheiro é a Europa caindo aos pedaços, dona de um patrimônio cultural que aprisiona as pessoas ao passado", analisa Miriam.
A diretora adaptou a peça para o público brasileiro. `À dramaturgia alemã e e austríaca é baseada na palavra, enquanto nossa tradição está calcada na forma e na ação."
Tornou o espetáculo mais agitado do que o original. O fulcro está na zeladora, vivida com eficácia por Irene Brietzke. O caleidoscópio escatológico da autora é acionado com discrição.
A peça encheu o teatro e foi bem aplaudida na pré-estréia, na última sexta. `À falta de recursos nos ensinou a fazer teatro com muito pouco", diz a diretora. ``Bastam bons textos e atores."

Peça; New York, New York
Elenco: Irene Brietzke, Adriane Mottola, Antonio Brunet, Breno Ketzer
Onde: Teatro Renascença, Porto Alegre
Quando: de sextas a domingos, às 21h
Quanto: R$ 10 (o ingresso)

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